Dá para imaginar uma semifinal totalmente argentina em um Masters 1000? Difícil, mesmo nos dias em que ver (ARG) ao lado de três tops 10 era comum no ranking mundial. Mas aconteceu. Foi em Hamburgo, em 2003, quanto o hoje ATP 500 ainda era Masters 1000. A Argentina voltou a fazer história na cidade alemã, com a vitória do qualifier Federico Delbonis, diante de Roger Federer, avançando à decisão do torneio.
Não falam espanhol em Hamburgo, o clima não é ameno – faz frio, inclusive nesta época do ano, não servem dulce de leche na sala dos jogadores – além das salsichas, aspargo é comida típica da região, mas todos são muito, muito bem tratados. O torneio de Hamburgo é um daqueles que te fazem se sentir bem-vindos. A cidade é bonita, cheia de parques e o Alster Lake, onde Federer e Haas posaram para foto no início da competição, é uma das grandes atrações turísticas. Cachorros passeiam soltos pelos bosques – será que lembra Palermo?
Difícil encontrar explicação para o sucesso argentino no norte da Alemanha.
Antes de Calleri, Nalbandian, Coria e Gaudio alcançarem a semi em 2003; Zabaleta havia sido vice-campeão em 1999 e Vilas campeão em 1978 – confesso que não olhei chave por chave entre esses 21 anos.
Lembro perfeitamente como se fosse hoje daquele 2003. Só não me recordo a razão de eu ter ficado em Hamburgo depois do Guga ter perdido nas oitavas-de-final para o Wayne Ferreira. Se não me engano, Larri foi para Berlim; Guga foi surfar e eu acabei ficando por lá, par air direto para Paris. A temporada na Europa estava longa. Começamos cinco semanas antes em Monte Carlo. Acho que estava cansada de ficar pra lá e pra cá.
Lembro da expressão dos jornalistas alemães e estrangeiros na sala de imprensa, tendo que cobrir 4 argentinos na semifinal; lembro da ATP querendo fazer uma foto dos 4 tenistas a lá Beatles – afinal, os Beatles tocaram em Hamburgo; lembro da briga entre eles no vestiário, de Calleri chegando à final; da “celeste” hasteada no Estádio Rothennaum; de só ouvir espanhol na sala dos jogadores durante uns 3 dias; da efervescência que o tênis do país vizinho ao nosso passava.
Coria acabou levando o título e viria a alcançar a final novamente no ano seguinte, perdendo para Federer.
Passaram-se 8 anos até outro argentino chegar à decisão em Hamburgo. Foi no ano passado, com o torneio já na condição de ATP 500 (foi rebaixado em 2009 – sem tenistas tops alemães, o torneio perdeu força na terra de Becker e Stich).
Juan Mônaco foi campeão no ano passado e agora temos outro argentino na final, de uma maneira bem surreal, que me lembrou aquele 2003.
Federico Delbonis, 22 anos, 114º do ranking mundial, vindo do qualifying, derrotou Roger Federer por 7/6 7/6. Um tenista como muitos destes argentinos, que disputam torneios Challengers e ATPs, mas que ainda estão distantes da Era de Ouro que o país viveu no início dos anos 2000.
Pode ser que venha a ganhar em Hamburgo. A final é contra Fabio Fognini. Mas, daqui a muitos anos, quem sabe daqui a 10, como hoje lembramos dos quatro semifinalistas de 2003, o que teremos em mente do ATP de 2013 é que Federer, que resolveu disputar o campeonato de última hora e testar uma nova raquete, com cabeça maior, perdeu para um argentino qualifier na semifinal.
É, tem um quê de Argentina em Hamburgo.
Por Diana Gabanyi