E assim, como um daqueles saques a mais de 220km/h que o adversário mal consegue enxergar, a temporada 2014 já começou oficialmente. A época de retrospectivas já passou e o momento, quase já atrasado também é de previsões para o circuito.
Um dos nomes que todos ficarão de olho neste ano é o de Milos Raonic e aqui vai uma entrevista que a Tennis View publicou com ele na sua última edição. A entrevista foi feita antes do ATP Finals, mas dá para conhecer bem a personalidade – ainda muito forte da região dos balcãs onde ele nasceu – do hoje canadense e ver que ele sabe que tem que amadurecer, mas que quer ir além da barreira do top 10 que quebrou em 2013.
Aproveito para me despedir do ano, enquanto tento encontrar uma maneira par 2014 de manter este blog sempre atualizado, mesmo durante o meu intenso trabalho como assessora de imprensa do Rio Open.
Mais jovem tenista entre os top 12 do ranking mundial, o canadense Milos Raonic quer muito, muito mais.
Aos 22 anos de idade, no melhor ano da sua jovem carreira no circuito profissional, Raonic já chegou ao top 10, depois de alcançar a final do Masters 1000 de Montreal e levou o seu país à semifinal da Copa Davis.
Raonic também esteve perto de se tornar o primeiro canadense a alcançar as quartas-de-final de um Grand Slam, no US Open, quando perdeu para Richard Gasquet, nas oitavas, com match point. Foi do mesmo Gasquet que ele ganhou na semifinal do ATP de Bangcoc, no fim de setembro, em que viria a conquistar o título, derrotando Tomas Berdych na final.
Dono de um potente saque e de uma das direitas mais fortes do circuito, Raonic enfim fez a ATP comemorar um novo nome entre os melhores do mundo, uma novidade entre os tops. Já que Grigor Dimitrov e Bernard Tomic estão demorando um pouco mais do que o esperado para ocupar estas posições também.
Atualmente treinado pelo croata Ivan Ljubicic, o canadense que nasceu em Montenegro e se mudou com a família para Toronto, quando tinha apenas três anos de idade, é um dos maiores ídolos do Canadá, o país em que o Hockey é o esporte número um. Durante a Copa Davis e o Masters 1000 do seu país, Raonic jogou inclusive com o símbolo do Canadá, a “maple leaf” na camiseta, especialmente feita para ele.
Um dos primeiros tenistas a integrar o centro de treinamento da Tennis Canada, em 2007, Raonic é fruto do trabalho da federação local, com uma combinação de bons técnicos e um jogo que se adapta ao circuito atualmente.
Campeão de 5 ATPs, em apenas sua terceira temporada completa na ATP, ele já foi eleito o novato do circuito em 2011, ao pular da 156ª para a 31ª posição. Mas, antes um conformista com o top 50, o canadense quer mais. “Quero ser o melhor do mundo.”
Tennis View conversou exclusivamente com Raonic, e descobriu muito mais sobre o tenista.
Tennis View – Você alcançou a final do Masters 1000 de Montreal, em agosto e entrou pela primeira vez no top 10 da ATP. Para muitos jogadores isso é o sonho de uma carreira toda e você já chegou lá com 22 anos de idade. Qual foi a sensação?
Milos Raonic – Foi uma grande sensação no momento, logo que aconteceu. É um momento que significa muito para mim, porque você sabe que é aquilo que você quer conquistar, é onde você quer chegar, é o seu objetivo de sempre. Mas, eu sempre disse muitas vezes que um dos meus objetivos também era entrar para o top 8 e jogar o ATP World Tour Finals, algo que seria enorme para mim. Agora estou mais perto e quando dou um passo para trás, percebo que é só um passo adiante do que eu realmente quero conquistar. Não muda muito em termos do porque eu jogo ou de para que eu jogo, que é sempre, constantemente me tornar mais forte mentalmente para os grandes jogos e continuar aprendendo através dessas experiências, para chegar ao meu objetivo
TV – Você estava de olho no top 10, ou era algo que você sonhava alcançar quando era criança?
MR – Quando eu era mais jovem eu achava que eu seria feliz no top 50. Mas, as coisas mudaram desde então. A minha crença no meu tênis mudou muito, acredito muito mais nas minhas habilidades e no progresso que eu posso fazer e onde posso chegar.
TV – Quando você chegou em Montreal, a sua confiança não estava lá no alto não. O que aconteceu que fez com que você tivesse aquela semana incrível?
MR – É verdade e acho que isso me ajudou, de alguma maneira, naquela situação. Eu cheguei em Montreal sem muitos bons resultados e não estava jogando muito bem. A minha performance nos jogos não estava boa, mas eu estava treinando bem. Então, a única coisa que eu podia fazer era jogar partida por partida e não me preocupar até onde eu iria deste jeito. Eu estava muito mais vivendo o momento do que qualquer outar coisa e isso fez com que eu não me preocupasse muito com outras coisas, mas apenas em entender o meu tênis. Aí as coisas começaram a acontecer. A torcida me ajudou muito, especialmente a sair de situações difíceis. Cada vez que me encontrava em um buraco eles me energizavam. Esse empurrão extra me ajudou nas situações difíceis.
TV – Você teve a melhor semana da sua carreira em Montreal, mas infelizmente ela talvez fique marcada pelo incidente com o Del Potro. Você mesmo disse depois que percebeu ter feito um erro de julgamento, não avisando o juiz que você tinha de fato tocado a rede naquele ponto crucial. Você ficou surpreso com o tanto que as pessoas falaram sobre isso?
MR – Muitas coisas estavam acontecendo para mim naquela semana. Eu estava jogano bem, voltando a ter confirança e não tive a chance de absorver o que estava acontecendo a minha volta. Todos os meus jogos foram super tarde e depois eu estava fazendo fisioterapia e na manhã seguinte me preparando para o próximo jogo. Não tive tempo, de verdade, para rever a situação até depois do torneio terminar. Em Cincinnati me desculpei com o Juan Martin del Potro publicamente e desde então não tive tempo de sentar com o Juan e discutir o que aconteceu. Nós dois estamos bem com o assunto. Não acho que seja algo que ficará marcado na minha semana que foi maravilhosa. Eu acho que há coisas muito mais interessantes para serem lembradas daquela semana. Vamos dizer que foi um aprendizado para mim. A situação nunca havia acontecido antes e agora eu aprendi com ela e sei que vou lidar melhor com isso da próxima vez.
TV – Você fez algumas mudanças na sua equipe recentemente, contratando o Ivan Ljubicic como seu técnico e contratando um preparador físico. Porque você decidiu mudar?
MR – O Galo (Blanco) e eu decidimos na temporada de saibro que tínhamos que seguir outros caminhos. Tenho que dizer que valorizo muito tudo o que ele fez por mim e me ensinou. Acho que o Ivan é perfeito para mim. Ele é um grande nome que se aposentou apenas um ano atrás e ele tem muito conhecimento e entende muito dos jogadores que estão no circuito. Com o Ivan, quando ele estava jogando o melhor tênis dele, ele era um dos tenistas que mais entendia do jogo de tênis e sabia o que ele tinha que fazer para vencer ou como manipular os adversários. Ele era um dos jogadores mais intelectuais em quadra. Acho que com essas qualidades ele pode me ajudar muito com o meu tênis. Tem sido ótimo.
Obviamente não tivemos muito tempo para trabalhar em muitas coisas técnicas. Tem sido mais filosofia e como lidar com certas coisas, tentar ser mais agressivo e incorporar isso em todos os jogos. Porque quando me encontro diante dos jogadores tops, sei que é isso que tenho que fazer para vencer. Se eu jogar cada partida, seja com um cara top 200, top 100 ou número um do mundo, com essa atitude eu sei que é assim que vou progredir e melhorar. Quando eu me encontrar diante de um top, já vou ter feito isso em três jogos anteriores, em vez de ficar na defensiva e ter que mudar e jogar agressivo. Quero que seja o meu estilo normal de jogo.
TV – Agora você tem um preparador físico. Entendo que você perdeu uns 5 quilos. Você estava sentindo que precisava perder pedo para ser mais eficiente em quadra?
MR – Não, aconteceu. Não era algo que eu estava pensando como objetivo. E não foram uns 5 quilos e sim uns 3,5k, 4k. O peso saiu naturalmente. Eu não estava me forçando e dizendo eu tenho que perder este peso. Aconteceu e me sinto melhor. A gente tem feito muitas coisas, como treinamento funcional, melhorando a minha movimentação, estabilidade e as minhas juntas. O básico que você precisa em termos de preparação física faz a diferença.
TV – Você jogou muito bem em Montreal, mas também tem sido um grande jogador de Copa Davis e a chave para o Canadá ter alcançado a semifinal da competição. Parece que representar o seu país te transcende, enquanto outros jogadores se sentem paralisados com a pressão. Como você explica isso?
MR – É verdade, a Copa Davis é uma grande parte da minha temporada. A gente tem jogado tão bem e temos maximizado as oportunidades. A Copa Davis é um evento de equipe e um evento nacional, mas tem uma coisa que eu sempre disse para mim mesmo e mantive essa mentalidade é que não é outro jogo. Não há mudança de regras, não há mudanças estruturais e você ainda está competindo como um indivíduo. Então foquei nisso e deu certo. Quando você fica um pouco nervoso, e isso acontece com todos, tem que se concentrar no apoio que você tem ao seu redor para passar por essas situações e voltar para onde deve estar, se concentrar e jogar bem.
TV – Suas origens são de Montenegro e mesmo que você seja canadense e more no Canadá, seus irmãos ainda vivem em Montenegro. Quando você vai visitá-los, você também sente que lá, de alguma maneira, é a sua casa?
MR – Sim, eu sinto. Eu nasci em Montenegro e os meus pais me criaram como eles foram criados lá. Como você disse, meu irmão e minha irmã moram lá, mas eles cresceram em Montenegro mais do que eu. Quando nós mudamos para o Canadá eu tinha 3 anos, mas a minha irmã já tinha 14 e portanto, passado infância dela toda por lá. Toda a minha família próxima está lá, primos, tios, avós, então é realmente um sentimento bem caseiro, por causa das pessoas, quando vou até lá. E desde que sou muito jovem a gente sempre vai para Montenegro, uma ou duas vezes por ano, porque a noção de família sempre foi muito importante para a nossa criação. Então me sinto em casa e me sinto à vontade lá. Mas, apesar disso, o verdadeiro sentimento de casa para mim, onde estou mais familiarizado, é em Toronto.
TV – Essa sua segunda cultura te deixa muito próximo de jogadores da ex-Iugoslávia, como o Novak Djokovic, por exemplo?
MR – Com certeza. Eu me dou muito bem com o Novak, mas também com o Janko (Tipsarevic), com Zimonjic (Nenad) e também com o Tomic (Bernard) e Matosevic (Marinko). Nós todos nos damos muito bem. Temos aquela cultura e entedemos o outro. Obviamente a língua que a gente fala no vestiário é a mesma. Tem muitos de nós ao redor de mundo, muitos de nós com essa cultura da ex-Iugoslávia e é bom ter essa camaradagem no circuito, porque quando você viaja tanto quanto nós viajamos, você está longe de casa. É bom ter amigos e pessoas com quem você se relaciona através da sua cultura.
TV – Você mencionou o Bernard Tomic, como um dos jogadores que você se dá bem. Mas, ele não é dos tenistas mais populares do circuito. Como você o vê como pessoa?
MR – Eu não gostaria de falar muito sobre ele. Mas, posso te dizer que ele é um bom cara e acho que às vezes ele sai para o lado errado, por exemplo. Ele é um caro muito bom, bom de coração. Acho que as pessoas tem que conhecê-lo melhor e não sair julgando ele antes disso. Eu me dou super bem com o Bernard e temos boa intenção um em relação ao outro. É bom tê-lo no circuito e vê-lo jogar bem.
TV – Você já enfrentou todos os jogadores tops. Quem mais te impressionou até hoje?
MR – Eu acho que cada um deles tem qualidades impressionantes. Se você olhar par ao Roger, pode dizer que ele é um grande atleta, um grande jogador de tênis e uma grande pessoa. Eu não estava no circuito nos anos em que ele mais dominou, quando ele vencia três Grand Slams por ano. Acho que teve um ano em que ele perdeu apenas quatro jogos, ou algo assim. Não vi isso. Mas, o Roger, com tudo que ele conquistou, é tão significante, não apenas para as crianças que estão querendo jogar tênis, mas no que ele significa para o tênis.
Depois você tem o Rafa, o cara que mais me impressionou neste ano. Ele perdeu uns sete meses no ano passado e no começo desta temporada e depois volta, não apenas vencendo muito, mas também muito aberto para mudar o tênis dele. Ele jogou o melhor tênis dele neste anon a quadra rápida. Realmente é impressionante.
O Novak, desde o meu primeiro ano no circuito, em 2011, eu o admiro pelo profissionalismo que o levou ao posto de número um do mundo, o que ele mudou e como ele conseguiu manter isso por dois anos e meio. Eu estive perto dos melhores momentos dele e pude assistir a mudança dele de disciplina e como isso o levou a lugares que antes ele não chegava.
TV – E quem deles você menos gosta de enfrentar?
MR – Acho que o tenista que eu gosto de enfrentar, mas tive mais problemas até agora é o Rafa. Ele tem, de longe, os melhores resultados contra mim e é um jogador que não me deixa nada à vontade.
TV – Você alcançou o top 10, mas também consegue se enxergar, um dia, como o melhor jogador do mundo? É um objetivo para você?
MR – Sim, é o que eu quero. Quero ser o melhor. Não estou colocando uma data para esse objetivo ser alcançado, mas estou fazendo o melhor que posso e depois vejo o que acontece. Naqueles dias em que você não está se sentindo no seu melhor, ou que você não está com pique de correr por muito tempo, é a motivação por esse objetivo que me faz passar por esses dias e continuar me levando além dos 100%, mesmo quando você não está com tanta vontade. É para isso que estou dando tudo de mim.
Georges Homsi