O catarinense Karue Sell viajou o Brasil e o mundo jogando tênis, com destaque como juvenil, e chegou a ocupar o posto nº 33 do ranking da ITF.
Em 2012, uma possibilidade que sempre considerou, surgiu, com a chance de jogar o circuito universitário norte-americano de tênis, por uma prestigiada Faculdade na modalidade.
Deste então, o brasileiro acumulou o conhecimento acadêmico e também muitas conquistas nas quadras, chegando a ser o capitão da equipe e ajudando os companheiros em conquistas importantes, além de treinar com nomes como Pete Sampras, Andy Roddick, Tommy Haas e Grigor Dimitrov.
Recém-formado, Karue é mais um que não se arrepende da escolha e que pretendo continuar trabalhando nos Estados Unidos, aproveitando as oportunidades que a experiência lhe proporcionou.
Confira como foi nossa conversa com ele.
Quando e como surgiu a oportunidade de ir para os EUA?
Eu sempre considerei o tênis universitário. Eu sabia dos desafios da vida de tenista profissional e, quando estava com 17 anos, não me senti totalmente preparado fisica e mentalmente para o circuito da ATP. Com meus resultados no juvenil, eu sabia que conseguiria uma bolsa na maioria das faculdades, mas quando tive a oferta da UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles), não tive duvidas que viria jogar aqui.
Em qual lugar você nasceu e morava aqui no Brasil? Como era sua vida jogando tênis aqui?
Eu nasci em Jaraguá do Sul, norte de Santa Catarina. A partir dos meus 11 anos, comecei a treinar em Itajaí, no Itamirim Clube de Campo, no centro de treinamento comandado por Ivan Kley e Patricio Arnold. Aos 14 anos, me mudei pra Itajaí, para poder treinar mais vezes por semana, 5 a 6 dias. Desde meus 11 anos, viajei bastante pelo Brasil para torneios e a partir dos 15 comecei a viajar mais internacionalmente. Nos meus últimos anos de juvenil, viajei bastante para torneios internacionais, então tive que fazer meu último ano de colegial online. Foi bastante movimentado, treinos, estudos viagens, mas sempre curti.
Qual foi a universidade escolhida? O que você cursou?
Eu terminei meus quatro anos de estudos e tênis há duas semanas. Me formei em Economia and Desenvolvimento Geográfico.
Qual era a sua expectativa quando partiu para os EUA?
Minha expectativa foi realmente para desenvolver meu tênis. A UCLA é uma das principais faculdades em termos de tênis e o programa é um dos melhores do país, sempre rankeado entre os 4 primeiros dos Estados Unidos. Queria melhorar minha técnica e meu físico nesses quatro anos, e ao mesmo tempo conseguir uma educação que me proporcionaria outras oportunidades além do tênis. No tênis de hoje se leva bastante tempo para amadurecer como jogador, e poder estudar e jogar tênis de qualidade foi a melhor opção.
Quais foram as principais dificuldades? Já sabia falar inglês fluentemente?
Confesso que não tive muitas dificuldades. Já falava inglês fluentemente, então língua nunca foi o problema. A maior dificuldade mesmo foi me adaptar a rotina de aulas, provas e horas de estudo, e ao mesmo tempo treinar, jogar torneios, descansar. É uma rotina bem longa, mas uma vez que me adaptei, não tive muitos problemas com mais nada.
Você teve algum apoio de alguma instituição para essa empreitada?
Tive sim. Eu contratei a MC Graduation, coordenada pelo Mauricio Cabrini. Os trabalhos deles foram essenciais para minha vinda para UCLA e eu devo muito a eles. Eles fizeram um trabalho incrível e eu recomendo a todos.
Você vem se destacando no circuito. Quais foram seus principais resultados?
Eu acabei de terminar minha carreira universitária. Cada atleta pode jogar 4 anos pela faculdade. Nesses meus quatro anos, tive uma carreira ótima, sempre fiz parte do line-up em simples e duplas. Terminei minha carreira com 104 vitórias de simples e 90 de duplas. As 104 vitórias me colocam no top 10 em jogadores com mais vitórias pela UCLA desde 1980.
O que eu mais me orgulho realmente foram meus resultados durante os dual matches, que são as partidas de faculdade contra faculdade, que é o que realmente importa. Nos meus quatro anos, ganhei 78 partidas e terminei empatado em primeiro lugar com maior número de vitorias em dual matches na História da faculdade. Também fui capitão do time no meus últimos dois anos
Resultados do time – Finalistas do NCAA champioship na temporada 2012-2013, campeões da nossa conferência (PAC-12) em 2013, 2014 e 2016.
Além do tênis, o que você faz atualmente?
Como eu acabei de terminar a faculdade, estou tirando um tempo para mim. São quatro longos anos e quero tirar um tempo para avaliar minhas opções. Não planejo voltar para o Brasil, então no momento estou no processo de mudar meu visto para poder ficar aqui por mais um ano, até eu decidir em qual direção irei.
Você pretende seguir trabalhando com o tênis ou pretende fazer outra coisa?
No momento estou trabalhando com tênis sim, dando aulas e jogando torneios. Aqui nos Estados Unidos, tênis é muito bem visto e é uma ótima maneira de conseguir ser financeiramente independente por um tempo. Estou pensando em tentar uma carreira como treinador no tênis universitário, porque é uma experiência muito legal, poder estar na quadra durante jogos e é muito divertido, mas vou manter minhas opções abertas. Também penso em trabalhar em áreas relacionadas ao esporte, pois esportes sempre fizeram parte da minha vida e não sei se posso excluir essa parte.
Você recomenda a experiência de jogar nos EUA aos jovens?
Eu recomendo muito a jovens tenistas que considerem essa experiência. É um clichê, mas foram os melhores 4 anos da minha vida e qualquer outra pessoa que jogou tenis universitário vai falar o mesmo. Você aprende muito, amadurece, melhora como tenista e como pessoa, e a experiência abre muitas portas para o futuro. Confesso que é até um pouco triste quando acaba, porque passa tão rápido. Parece que foram alguns dias atrás que eu cheguei aqui e num piscar de olhos, eu acabei, mas não me arrependo de nada e tenho muito orgulho de ter feito parte de uma faculdade de tanto respeito quanto a UCLA e de ter deixado minha marca como tenista aqui.
Como moro em Los Angeles, muitos tenistas profissionais treinam na nossa faculdade durante o ano. Tive o prazer de treinar com nomes como Pete Sampras, Grigor Dimitrov, Tommy Haas, Mardy Fish, James Blake, Jack Sock, e Andy Roddick. Foi muito legal ter a experieência de jogar com tenistas desse calibre e é algo que vou me lembrar pelo resto da vida.