Bruno Rosa foi um dos grandes talentos do tênis juvenil do Brasil. Em 2004, ano em que completou 18 anos, chegou a ser o nº 8 do mundo no ranking juvenil da ITF.
Neste mesmo ano, começou a ter destaque também no circuito profissional, vencendo jogadores como Marcelo Melo, Rogerinho, o cazaque Andrey Golubev, ex-nº 33 do mundo e que já venceu ATP 500 na carreira, e até Thomaz Bellucci, no qualifying de um Challenger em Belo Horizonte.
Em 2006, aos 20 anos, perto do nº 400 da ATP, decidiu jogar o circuito universitário norte-americano, estudando e se formando em Economia pela Rice University, com o apoio do Daquiprafora, umas das principais empresas no assessoramento de atletas e estudantes para universidades nos Estados Unidos.
O catarinense garante que não se arrepende da escolha e que foi uma das melhores decisões da sua vida, mesmo se surpreendendo com o nível de tênis que encontrou nos Estados Unidos: “Eu era 400 da ATP, achei que ia pro universitário e ganhar os jogos com facilidade”
Não foi bem assim, o nível é alto, mas isso não o impediu de se destacar nos estudos e em quadra, jogando a divisão 1 durante os quatro anos.
“O tênis universitário tem um ritmo muito forte. Lógico que diminuí meu ritmo de treinamento, mas eu posso falar que o nível da primeira divisão do universitário é um nível de Challenger tranquilamente.”
Depois de se formar, voltou ao Brasil, trabalhou na Estácio e agora, se prepara para um momento muito especial, como ele mesmo define, sendo aceito na Stanford University, uma das melhores do mundo, para cursar um MBA por dois anos:
“Estou em um momento de transição. Voltei dos Estados Unidos em 2010, trabalhei no mercado financeiro e comecei em 2012 a trabalhar na Estácio, ficando até julho desse ano. Quase 4 anos, em áreas diferentes. Foi uma experiência muito bacana. Mesmo não sendo minha função, acabei intermediando alguns patrocínios com jogadores como Pablo Cuevas e Pablo Andujar. A Estácio tem por hábito ajudar bastante atletas, como quase todos os principais tenistas brasileiros.
Na época do Brasil Open, fazia uma participação mais intensa nessa minha interação com os jogadores. É bom, ajuda os jogadores, fazendo um patrocínio em uma semana, e pra gente era interessante colocar nossa marca nesses jogadores. O Cuevas é meu amigo de infância, jogamos juntos desde que tínhamos 14 anos. Fizemos (o patrocínio) esse ano e nas duas semanas que fizemos com ele (Rio Open e Brasil Open), ele foi campeão.
Agora, estou indo fazer MBA em Stanford, a faculdade dos meus sonhos, que eu sempre quis vir, e agora tive a oportunidade, fui aceito e vou morar dois anos dentro da faculdade, full time no MBA. O processo seletivo é muito difícil, foram muitos meses. Esse MBA em Stanford é, sem dúvida, o mais concorrido no mundo atualmente, então é um momento muito especial”
Bruno não esconde sua opinião quando se refere à escolha pelo tênis universitário, mesmo considerando que cada jogador deve tomar sua decisão, sem estipular uma regra pra isso:
“Acho que cada caso é um caso. Não sei se a mesma regra funciona pra todo mundo. Acho que é um saída sensacional. O tênis universitário tem um nível que muitas pessoas no Brasil não fazem ideia que tem. Durante quatro anos, eu joguei em um nível muito alto e poderia ter voltado pra jogar tênis profissional. Não voltei porque não era meu foco. Quando fui pros EUA, fui pra estudar realmente. Dá pra jogar profissional depois, além de uma educação de ponta, uma experiência fora, em um país de primeiro mundo. Eu não conheço ninguém que tenha se arrependido dessa experiência.
Cada um faz sua História, mas pra mim agregou demais. Morar fora, ter frequentando uma universidade de ponta, fazer amizades lá fora, foi tudo muito importante pro início da minha carreira profissional.
Ouso dizer que é uma das melhores opções e muita gente poderia se beneficiar disso. Tem muita gente no Brasil demorando a tomar essa decisão, de estudar fora e que poderia se beneficiar bastante, continuar jogando tênis em um nível muito forte. No Brasil, parece que as pessoas até discriminam um pouco quem faz essa opção. Isso está mudando, mas na época em que fui, as pessoas até discriminavam, como se fosse quase ofensivo. Acho que alguns tenistas brasileiros iriam se beneficiar muito jogando tênis universitário.
Acho que hoje, tentar tênis profissional, é muito mais pra um tenista exceção do que a regra. Acho que o ideal seria que os tenistas começassem a ir mais e aqueles dois ou três com um nível acima da média poderiam tentar o profissional e parar de estudar. Fora isso, se não for acima da média, acho que o caminho universitário deveria prevalecer.”
Depois de viver quatro anos dentro de um ambiente esportivo e universitário, Bruno afirma que não foi fácil, a rotina foi intensa, mas isso contribuiu bastante para o seu crescimento pessoal, agregando valores importantes, como a própria capacidade de organização:
“A vida universitária, como um todo, me trouxe como valor a necessidade de me organizar para que trabalhasse praticamente o dia inteiro. Nos quatro anos de universidade que fiz, devo ter dormido 4, 5 horas por noite, em média.
Acordava de manhã pra estudar, pra ir pra aula. À tarde, ia treinar, e à noite, ia estudar até de madrugada. Foram quatro anos muito intensos.
Eu sempre treinei muito no tênis, sempre fui muito dedicado. Pra não deixar o tênis impactar nos meus estudos, usei essa dedicação para os livros. Usei os mesmos hábitos, a mesma dedicação, mas dividindo entre o tênis e a faculdade.”
Ao longo desse tempo, ele conviveu e jogou contra jogadores que se destacaram ou que frequentam o circuito profissional há um bom tempo:
Joguei com vários atletas que estão entre os 200, 300 da ATP, como o Austin Krajicek, Robert Farah, Daniel Vallverdu (Treinador do Dimitrov e ex-treinador de Berdych e Murray). Joguei na mesma época que o Steve Johnson, mas não contra ele.
Por fim, ele falou sobre o processo de distanciamento do tênis e sua estratégia para sentir menos saudade do esporte que lhe proporcionou tantas oportunidades na carreira e para a vida:
“Pra ser sincero, não foi muito difícil. Foi muito importante parar de jogar tênis aos poucos. Acho que se tivesse parado de uma hora pra outra teria sido muito difícil.
Quando eu comecei a estudar, eu sabia que seria muito bom ter uma atividade paralela ao tempo em que eu jogava tênis, e os estudos foram fundamentais nisso.
Hoje em dia, eu jogo menos tênis do que eu gostaria, mas agora no MBA vai ser mais fácil, pois a faculdade é ao lado das quadras de tênis de Stanford, e nos últimos meses já venho jogando tênis com mais frequência. Por muito tempo, eu não senti saudade de jogar tênis, e deixei essa saudade vir naturalmente. Nos últimos meses, a saudade tem vindo e por isso tenho jogado muito mais. Nas últimas semanas, eu tenho jogado duas ou três vezes por semana, enquanto nos últimos três, quatro anos eu joguei cinco ou seis vezes por ano, até por estar focado em trabalhar e em outras atividades.”
Foto: João Pires/Fotojump