Assim como fez nas três edições anteriores, Gustavo Kuerten prestigiou, nesta quarta-feira, o Rio Open, ATP 500 disputado no Jockey Club Brasileiro e maior torneio de tênis da América do Sul.
O tricampeão de Roland Garros aproveitou pra conversar com os jornalistas e falou sobre diversos assuntos, sem esconder a vontade que ainda sente de jogar quando comparece ao Rio Open:
“A vontade de jogar é proporcional à paixão que eu tenho pelo tênis e é complicado, pois minha condição física ainda não me permite entrar em quadra. De certa forma, é bom que simboliza que tudo que eu fiz foi concreto. E hoje seria impraticável, meu físico não permite, mas eu gosto de estar por perto, fazer parte como puder e sempre ficar por perto ajudando.” afirmou.
Guga falou também da situação inusitada de ter um confronto entre brasileiros nas oitavas de final de um grande torneio como esse, principalmente pelo fato de Thomaz Bellucci e Thiago Monteiro terem jogado juntos na chave de duplas (perderam para os colombianos Juan Sebastian Cabal e Robert Farah pouco depois da entrevista).
“É algo que acontece, você estar dentro de quadra junto, em um jogo de duplas e logo em seguida eles se enfrentam. É bom porque teremos um brasileiro nas quartas de final, e é legal pro público, que pode se programar já e esperar por um brasileiro indo longe.”
Diferentemente do que muitos pensam, Guga não se surpreendeu com a vitória de Bellucci sobre o japonês Kei Nishikori, na estreia, ratificando que acreditava no potencial do brasileiro, principalmente pelas circunstâncias:
“Não foi surpresa o Bellucci vencer, ele é um grande jogador, ainda mais aqui no Brasil. Ele incomoda qualquer outro adversário, tem o potencial de vencer sim e ontem foi um dia iluminado. Mesmo perdendo o saque no segundo set, ele conseguiu se manter dentro da partida. E vejo agora um espelhamento. O Thiago entrou com a expectativa lá em cima pelo que fez ano passado e teve que virar a partida. Acredito que amanhã o Thiago entre mais solto e o Bellucci assuma mais o favoritismo. De qualquer forma, será interessante e servirá de teste para ambos e teremos um tenista nas quartas de final.” disse Guga.
Outro assunto recorrente nas entrevistas de Guga é uma possível mudança de local do Rio Open, que passaria do Jockey para o Centro Olímpico de Tênis e, consequentemente, do saibro para o piso duro. O ex-nº 1 do mundo também opinou sobre isso:
“Esse torneio ainda se comporta melhor aqui. Seria impossível pensar em Centro Olímpico neste momento, pela insegurança e incerteza do que vai acontecer por lá. Um torneio desses é muito grande, depende de uma série de decisões, gera uma conta grande pra pagar, precisa de uma certeza e convicção de que as coisas funcionariam. Então o Centro Olímpico demandaria uma segurança maior para ser pleiteado. Esse torneio sendo feito da forma como está esse ano, mantendo essa experiência fenomenal para todos. Um dia acho que podemos sim ir para o Centro Olímpico e até ser um primeiro passo para virar um Masters 1000, é um sonho legal de cultivar, mas precisaremos de tempo para amadurecer e o Centro Olímpico precisa ser praticável.”
Quando foi indagado sobre a possibilidade de virar treinador, repetindo experiências de ex-jogadores como Boris Becker, por exemplo, que teve sucesso na parceria com Novak Djokovic, Guga rechaçou e ainda brincou com Fernando Meligeni:
“É óbvio que o Fino ia falar essa besteirada (risos). Eu nunca pensei em ser treinador. Eu costumo brincar que hoje sou treinador de dois em casa, dividindo com a minha esposa, as avós e é muito complicado. E pegar um tenista hoje está muito fora dos meus planos e o que eu almejo como contribuição pro tênis é inverso à esse caminho e eu não me vejo pegando a estrada, pois é cair de cabeça de novo no circuito. Sinto que existe muita experiência pra compartilhar, mas a gente opta por empenho na Escolinha Guga pra trabalhar a base, fizemos um projeto com o Thiago Monteiro com 13 anos e hoje ele tá ai, com sucesso no profissional, mas é tudo de uma forma caseira, compatível com a nossa realidade, o dinheiro encolheu muito, tá todo mundo muito desesperado. Tem que ter muito esforço por parte do cara, mesmo os europeus batalham muito e aqui ainda temos essa ideia de que como a estrutura não é a ideal, temos que dar tudo. Então fica uma disparidade muito grande, portanto nosso objetivo é formar novos jogadores e treinadores, por isso meus desafios ficam mais direcionados a essa esfera brasileira.”
Guga também falou sobre a oportunidade de jovens que viajam ao exterior pra treinar, como Cauã Paulino, de apenas 12 anos, que faz parte de um dos projetos sociais apoiados pelo Rio Open e que ganhou a chance de passar uma semana treinando na IMG Academy, famosa academia de tênis de Nick Bollettieri, no segundo semestre:
“Eu vejo com dois efeitos. Para aquele garoto que vai pra lá e descobre que o tênis vai muito além do profissional, conhecer outras realidades. E outra é que todos que estão em torno querem aquela realidade. Todo mundo tá sendo contagiado pelo fato de alguém ir, quantos garotos viram isso e foram para quadra correndo pensando “ano que vem to lá no Rio Open”. Essa simbologia do esporte precisa ser mantida, incentivar sim essa criança, ter expoentes e que eles sirvam de exemplo para os que vêm em seguida. E o tênis colabora com isso, pois o meio é muito saudável, a criança vai nessa viagem e volta trazendo mais experiência para dividir aqui com toda essa galera. Mais cedo ou mais tarde vai vir um jogador brasileiro que vai ter sucesso, vai chegar ao top 10 e esses estímulos são cruciais para manter a nossa crença de que é possível.” concluiu.