Nishikori faz história na ATP ao chegar ao top 10. Tenista se mudou para os EUA aos 14 anos de idade

Nunca pensei que fosse escrever sobre a entrada de Kei Nishikori no top 10.  Mas, o fato é que o japonês está jogando muito tênis. A partir de segunda-feira estará no top 10 da ATP, como o primeiro tenista do país a conseguir tal feito. Depois de conquistar o ATP 500 de Barcelona, decide o Masters 1000 de Madri contra Rafael Nadal, final inédita na sua carreira.

NISIHIKORI top 10

Lembro da primeira vez que ouvi falar em Kei Nishikori. Era 2007 e estávamos em Miami. Guga ganhava um wild card para jogar a competição, mas tinha que ser ao lado de um tenista da IMG. E o tal tenista era um japonês de 16 anos, grande aposta da casa. Em apenas um jogo não deu para ver muita coisa de Nishikori.

Alguns meses foram passando e um ano depois ele estava ganhando o título do ATP de Delray Beach, quando ainda era disputado na quadra rápida. Ganhou outro em 2012, em Toquio, aumentando ainda mais a sua fama no Japão e no ano passado venceu o ATP de Memphis. Mas, mesmo assim ainda faltava algo a mais para o japonês, baseado na Flórida, na IMG Academy.

Foi justo sobre Nishikori, um dos últimos capítulos do livro de Nick Bollettieri,Changing the Game, que li uns dias atrás e escrevi no post anterior. Bollettieri conta que Nishikori veio parar na academia depois dele e de Arthur Ashe terem feito uma clínica no Japão e um dos acionistas da Sony ter visto o impacto que teve nos tenistas e o quão avançado eram os métodos do americano. O Sr. Morita mandou então um técnico japonês para Bradenton e o treinador, com o patrocínio da Sony, foi levando alguns talentos para a Flórida e um deles, aos 14 anos, foi Nishikori.

“O Kei não falava uma palavra de inglês, nunca tinha provado comida americana e estava num alojamento com outras 7 crianças. Ele demorou um pouco para se adaptar, mas não na quadra. Logo percebi que ele tinha talento. Era muito rápido e tinha mãos mágicas. Como o Agassi e o Rios, ele tem um talento nato, que não pode ser ensinado, apenas canalizado.”

Desde que chegou à academia, mesmo com o consultor japonês por trás, Nishikori foi treinado por Dante Bottini e o agente sempre foi o Olivier van Lindonk. Segundo Bollettieri, ninguém diz muito de Bottini, mas o técnico é quieto, sabe o que faz e entende Kei.

A grande mudança, no entanto, para que a estrela japonesa desse o salto que faltava para começar a vencer os jogadores tops e passar de um jogador mediano para um top foi a contratação de Michael Chang, no fim do ano passado. Há poucas semanas, em uma entrevista ao jornal L’Equipe, Chang disse que aceitou o desafio primeiro por entender Nishikori e ter origem asiática e por acreditar que podia fazer o tenista melhorar. No entanto, Chang não viaja com Nishikori todas as semanas e quem está o tempo todo ao lado dele é Bottini.

A primeira mudança que Chang fez no jogo do tenista foi melhorar a movimentação de pernas e como dar mais impacto à bola, colocar profundidade e spin, que fazem a total diferença no saibro.

Bollettieri conta no livro que aprovou a contratação de Chang e que um fator importante é que o campeão de Roland Garros 1989 fará Nishikori acreditar em si mesmo.

Não há dúvidas de que está acreditando, mesmo precisando de 10 match points para derrotar David Ferrer na semifinal em Madri.

O físico pode ser uma barreira na final contra Nadal, como já foi em Miami, em que teve que abandonar a semifinal contra Djokovic depois de ter vencido o mesmo Ferrer e Federer na sequência. Mas, agora aos 24 anos, ele está chegando lá.

Foto: Diego G. Souto/MMO

Diana Gabanyi

Bollettieri, de fato “changing the game”

Nick Bollettieri realmente revolucionou o mundo do tênis. Não, ele não mudou regras do esporte e não se tornou ídolo mundial. Mas, seu método de treinamento e a criação da primeira academia do mundo em que os tenistas puderam morar e estudar no mesmo local, transformou o tênis. É basicamente sobre o seu caminho até chegar hoje no que é a IMG Academy e o seu relacionamento com os inúmeros tenistas tops que treinou que ele conta no livro “Changing the Game – Nick Bollettieri.”

O livro é de fácil leitura, daquelas bem rápidas. Os capítulos são curtos, a linguagem é fácil – mesmo para quem não fala inglês dos mais fluentes, dá para entender bem. Depois das páginas iniciais em que conta como chegou no tênis e o caminho até comprar o primeiro terreno na Flórida, em Bradenton para construir as primeiras quadras e “alugar” um hotel para hospedar os primeiros tenistas, basicamente fala de um tenista por capítulo, emendando com o crescimento da academia – a compra da IMG, a mudança de nome e os seus oito casamentos.

bollettieri changing the game

Há algumas passagens interessantes no livro que eu desconhecia completamente, como o relacionamento de Bollettieri com Arthur Ashe e o programa que eles fizeram em alguns estados norte-americanos de iniciação ao tênis, em áreas de baixa renda no País; o programa que ele lançou com a atual mulher, Cindi, uns anos atrás, para diminuir a obesidade infantil entre meninas e por aí vai.

Os capítulos com os tenistas são interessantes, principalmente os que não ficaram tanto tempo na academia e como ele trabalhava com os jogadores e suas equipes. Foi rápido o contato que ele teve, por exemplo, com Martina Hingis. Mas foi com ele e a mãe Melanie Molitor que ela ganhou um dos Masters, ainda em NY. Ele conta da relação com Serena Williams e Venus Williams, fala abertamente da influência exarcebada das mães de Jelena Jankovic e Anna Kournikova; da do pai de Sabine Lisicki; entre outros.

Não há novidades sobre os relacionamentos com Andre Agassi, Jim Courier, Tommy Haas, entre outros.

Ele já havia falado bastante sobre isso no livro My Aces, My Faults e anunciado alguns arrependimentos, como o da maneira em que terminou a parceria com Andre Agassi.

Boris Becker também ganha algumas boas páginas do livro.

Mas, muito além de como Bollettieri lidou com esse número enorme de tenistas estrelas que pela academia passaram e ainda passam, o que fica claro pra mim é algo que sempre me falaram. Como o tênis te abre portas. Desde que começou a dar aulas em um hotel em Miami, a vida de Bollettieri foi se transformando pelas pessoas que ele encontrou.

Claro, as ideias e os sonhos foram e são deles. Mas, se não fosse pelas pessoas que conheceu em academias, clubes, dando aulas, ou treinando os filhos, não teria o apoio, companheirismo e investimento necessários para chegar onde chegou.

Vejo isso em diversos níveis do esporte.

Até hoje, aos 83 anos, Bollettieri continua viajando o mundo, visitando os amigos de décadas atrás, jogando tênis com grandes figurões do mundo corporativo em suas residências, segue acordando 04h30min e dando treinos na IMG Academy e indo aos Grand Slams, onde é constantemente reverenciado por todos os tenistas que treinou ou que passaram pela academia.

Homenageado inúmeras vezes nos EUA e pelo mundo, ganhará a maior honraria do esporte, quando entrar no Hall da Fama do tênis, em Newport, em julho deste ano.

Nick Bollettieri with Bob Davis
Changing the Game

New Chapter Publisher – disponível em inglês no kindle e impresso.

2014

Diana Gabanyi