Principalmente nos últimos dois anos, Luisa Stefani se tornou uma das principais promessas do tênis feminino nacional, apresentando bons resultados em quadra e ganhando destaque no país ao faturar os títulos do Banana Bowl e da Copa Gerdau em 2013, na categoria dos 16 anos.
Desde 2011, a brasileira foi morar nos Estados Unidos com os pais e desde então possui uma rotina de muito estudo e treinos na Saddlebrook Tennis Academy.
Aos 16 anos, os resultados de Luisa continuam aparecendo, inclusive no profissional. Já neste ano, ela teve a oportunidade de participar do qualifying do Rio Open através de um convite e fez bonito, vencendo um set e endurecendo a partida contra uma top 100.
Conversamos com a talentosa brasileira e a seguir você pode conhecer seus objetivos e expectativas, além, é claro, de saber um pouco mais do dia a dia de Luisa nos Estados Unidos.
Como surgiu a oportunidade de jogar nos Estados Unidos e como foi essa adaptação?
Um certo dia, meus pais chamaram eu e meu irmão para conversar sobre a possibilidade de nos mudarmos para os Estados Unidos. O objetivo dos meus pais nessa mudança era nos dar uma oportunidade para melhorar no tênis, treinar em outra realidade, aprender inglês e também começar uma nova experiência de vida. Eu acho que demorou um pouco para “cair a ficha” e só depois eu fui perceber que seria uma grande mudança e, com certeza, algo que mudaria não só a minha vida, mas a vida da família inteira.
Quando chegamos nos Estados Unidos eu falava pouco inglês e era muito quieta, eu conseguia me virar no espanhol e assim fui aprendendo a conversar, fazer amizades e melhorar na escola.
No tênis, por mais difícil que fosse de entender, os termos são mais parecidos e conseguia lidar melhor com a situação, pois não tinha muito o que falar, era só entrar em quadra e jogar. Os outros atletas também sempre tentavam me ajudar na comunicação, às vezes eu seguia o que os outros estavam fazendo, ou na pior das hipóteses mimica funcionava bem também (risos).
Como é sua rotina na Saddlebrook Tennis Academy?
Eu vou para escola de manhã, das 7:30hs às12:05hs e tenho 1 hora de almoço entre a escola e o tênis. No período da tarde, treino em quadra das 13:10hs às 15:00hs horas, geralmente drills, bastante repetição de movimentos, patterns, técnica, etc. Na segunda sessão, das 15:00hs às 17:00hs, treino de competição e tática, colocando em prática o que treinamos na primeira sessão da tarde.
A preparação física é feita das 17:00 às 18:00hs, e é composta por treinos de resistência, força, agilidade, coordenação e exercícios específicos relacionados ao tênis.
Dois dias por semana fazemos treinamento físico durante metade da primeira sessão de tênis e depois seguimos a rotina de treinamento em quadra.
Você acha que essa mudança foi fundamental para uma evolução na qualidade do seu jogo?
Sim, sem dúvida. Essa mudança me ajudou muito, não só com a evolução do meu jogo, mas como minha experiência em torneios e em uma atmosfera de tênis completamente diferente do que eu estava acostumada.
Qual é o diferencial que a academia tem em relação às outras que você conhece?
Aqui eu sinto que as pessoas se ajudam, muita cooperação. Aqui eu sinto que participamos de um grupo onde todos se ajudam em tudo o que o outro precisa e em todos os aspectos, seja em quadra, na escola e na vida em geral. Trabalhamos duro, mas sempre apoiamos uns aos outros.
Que outros tenistas você já encontrou treinando por lá e com quem você já treinou?
Dos profissionais que treinam no Saddlebrook frequentemente, John Isner é o que tem melhor, mas eu também já vi o time da Davis Cup dos Estados Unidos se preparando para competição aqui. Entre os norte-americanos, vi o Jack Sock, Donald Young, Mike e Bob Bryan, James Blake e o Jim Courier. O #1 do ranking juvenil Zverev e seu irmão sempre passam uma temporada do ano por aqui, e outros Pros que estão menos rankeados.
Entre as mulheres já vi por aqui a Sam Stosur, Ursula Radwanska, Jennifer Capriati e Martina Hingis, com quem tive a oportunidade de jogar e treinar duas vezes. Tem outras jogadoras da WTA, não tão famosas, que vem para cá para fazer pré-temporada também.
E pra você, como é abrir mão de algumas coisas que os jovens da sua idade possuem para ter essa dedicação praticamente exclusiva ao tênis?
Não vejo abrir mão de certas coisas como uma perda de maneira alguma; a verdade é que eu viajo o tempo todo para vários lugares diferentes, conhecendo novas pessoas e culturas, me divertindo, jogando tênis, fazendo o que eu amo e com certeza aproveitando a vida de um jeito diferente. Na minha opinião, tem tempo pra tudo na vida e com certeza um dia eu vou ter tempo para fazer as coisas que eu não posso fazer agora, pois estou dedicando meu tempo mais ao tênis.
Além do apoio da família, você teve ou tem apoio de alguma instituição?
Apoio financeiro? Só dos meus pais. Temos apenas um acordo com a Head para fornecimento de raquetes. O Departamento Técnico da CBT tem sido importante este ano, assim podemos usar a estrutura disponível nos torneios. No começo do ano, por exemplo, meu técnico não pode me acompanhar nos torneio na Venezuela e Colômbia, assim fui com a equipe da CBT que me deu total apoio. Outras instituições e academias nos ofereceram a possibilidade de usar suas estruturas enquanto eu estivesse de passagem no Brasil.
A boa notícia foi que recebi um convite para participar de um programa da ITF (International Tennis Federation) e com aval da CBT, que vai possibilitar eu jogar a Gira Europeia este ano. Assim poderei disputar importantes torneios juvenis, como Roland Garros e Wimbledon.
No ano passado você conseguiu muitos resultados importantes, como os títulos da Gerdau e do Banana nos 16 anos, o primeiro ponto no ranking WTA, muitas vitórias como juvenil e acabou chamando a atenção da mídia. Fale um pouco da importância de 2013 para a sua carreira.
2013 foi um ano muito especial para mim e foi em um piscar de olhos. Tudo melhorou. Foi quando eu tive os meus primeiros bons resultados em torneios de maior nível, comparado aos que eu jogava antes, e foi quando eu senti que finalmente tinha subido mais um degrau na escada do meu desenvolvimento.
A oportunidade de jogar meu primeiro torneio profissional, onde ganhei um WC e consegui chegar na semi-final, colocar meu nome no ranking WTA ainda com 15 anos, a sequência de vitórias em torneios juvenis, com destaque para os Títulos do Banana Bowl, Copa Gerdau, o Sul-Americano por Equipes e o 5º lugar na Fed Cup Jr (todos na categoria até 16 anos) foram sem dúvida muito importantes para mim e acredito que para meu futuro também.
Como foi a experiência de jogar o quali do Rio Open e ainda tirar um set de uma top 100?
A experiência no quali do Rio Open foi muito boa, consegui aproveitar bastante o torneio e nos poucos dias que passei lá, consegui sentir como é o circuito profissional, estar perto de grandes jogadores, também tive a oportunidade de treinar com jogadoras de alto nível (top 100), o que foi um ótimo aprendizado, uma experiência incrível e me motivou bastante.
Quais são seus próximos objetivos na carreira?
Meus objetivos agora são participar dos Grand Slams juvenis na chave principal e ter uma boa performance nesse meio de ano nos torneios Juvenis. Se possível, participar de alguns torneios profissionais para melhorar meu ranking e ganhar mais experiência.
Você pretende ficar nos Estados Unidos? Já pensou em buscar uma bolsa para jogar o circuito universitário?
Por enquanto eu pretendo ficar nos Estados Unidos, pelo menos até eu acabar o high-school (maio/2015). E quanto ao circuito universitário, é uma boa oportunidade, as portas estão abertas, mas ainda não decidi o que fazer.
Qual é o seu maior sonho no tênis?
O meu maior sonho no tênis é ser o melhor que eu possa ser, nº 1. E fazer a diferença sendo um bom exemplo.
Foto: William Lucas/Inovafoto