Relembrando a vitória histórica de Guga em Cincinnati

Se neste ano faltaram estrelas tops para jogar o Masters 1000 de Cincinnati, normalmente não é assim e nem sempre foi. Nos últimos dias surgiram vários vídeos por aí de jogos do Guga no mais “afastado” Masters 1000 do circuito, dos grandes centros. Ainda me surpreende que um torneio de tal porte seja disputado em Cincinnati – mas isso é assunto para outro post.

Guga ganhou títulos importantes, celebramos as conquistas em Roland Garros (os 20 anos do primeiro título), os 15 do ATP Finals em Lisboa não faz pouco tempo. Mas, algumas conquistas em ATPs e Masters 1000 ficam guardadas na nossa memória mais do que os outros, seja pelas emocionantes vitórias ou pela maneira como aconteceram.

Não sei porque mas guardo na memória detalhes daqueles dias no MidWest Americano.

A temporada estava sendo das mais longas. Começou com uma semifinal em Los Angeles, logo depois do campeonato em Stuttgart.

Aí veio o Masters 1000 de Montreal – naquela época não havia bye para os cabeças-de-chave e as finais ainda eram disputadas em cinco sets – e um jovem Americano, então 35º colocado no ranking mundial e com 19 anos venceu o Guga na terceira rodada. Era o Andy Roddick.

Com a derrota precoce fomos cedo para Cincinnati. Nos hospedamos como todos os anos no Marriott mais perto do torneio, que acreditem se quiser fica na beira de uma estrada e ao lado de um supermercado, o famoso BIG e a rotina de treinos por lá começou, com um intervalo ocasional para jogar um golfezinho, no campo que fica grudado às quadras. O BIG era nossa diversão e passeio diário, no pouco tempo livre que sobrava (mesmo não sobrando muito eu e a Lia Benthien – na época ela fazia o Nas Pegadas do Campeão da ESPN – sempre tínhamos alguma coisa para ver e levar do Big…). O Kings Island, parque de diversões que fica em frente ao torneio, mas do outro lado da estrada, exigia mais tempo para uma visita..

O Guga era o número um do mundo na época e cabeça-de-chave 1 do torneio (o Agassi era o 2º pré-classificado). Então a agenda era cheia. Havia entrevistas todos os dias, imprensa brasileira e estrangeira, gravação de chamada de comercial de TV para o US Open, de mensagem para o MTV Music Awards, sessão de autógrafos, coletivas e os dias eram longos.

Lembro quando a chave saiu, num sorteio feito pelo velhinho simpatico, o Sr. Paul Flory, diretor do torneio, na sexta-feira antes dos jogos começarem. 1ª rodada: Guga e Andy Roddick.

Já se criou todo um burburinho em torno do jogo. Deu Guga, por 7/6 6/1.

Em seguida veio Tommy Haas, que era o 16º do ranking naquela semana e Guga ganhou de novo em dois sets, em dois tie-breaks.

O próximo adversário era o Goran Ivanisevic, que havia ganhado Wimbledon naquele ano e era o 19º colocado. Guga ganhou rapidinho por 6/2 6/1.

Já estávamos nas quartas-de-final e o adversário era o Yevgeny Kafelnikov, que estava em 6º no ranking. E o Guga ganha por 6/4 3/6 6/4 e ele chegava de novo à semifinal em Cincinnati, repetindo o resultado do ano 2000 e contra o mesmo adversário, o Tim Henman, 8º no ranking. No ano anterior, o britânico havia vencido por 7/6 no terceiro set.

Era um dos adversários que mais complicavam o jogo para o Guga.

A outra semifinal era entre o Patrick Rafter e o Lleyton Hewitt. E os jogos nesses torneios costumavam ser, por causa da televisão, um no início da tarde e outro à noite. O Rafter ganhou do Hewitt em dois sets e no meio da tarde já estava se preparando para a final.

Guga entrou em quadra para enfrentar Henman, venceu o primeiro set por 6/2 e de repente o tempo começou a virar.  Dava para ver raios e ouvir os trovões de longe. O jogo continuou – se não me engano até quase o fim do segundo set e veio uma tempestade.

Ficamos por horas esperando para ver se ela ia passar e começando a ouvir relatos do público de que cadeiras haviam voado em alguns lugares de Mason, Ohio e que havia carros boiando por perto.

Quando já era perto de meia-noite decidiram deixar a semifinal e a final para domingo.

Independente do resultado do jogo, já davam Rafter como campeão certo.

Guga voltou à quadra cedo, perdeu o segundo set por 6/1 e foi para o terceiro. Como no ano anterior a batalha iria para o tie-break. Só que desta vez, a vitória ficou com Guga por 7/4.

Para surpresa de muitos, em acordo com a ATP e o torneio, Guga voltou à quadra minutos depois para jogar a final. Já estava quente e pronto para o jogo e tudo que o Larri gritava do box era “Marreta” na devolução.

E com as “marretas” de devolução, Guga venceu Rafter, o sétimo do ranking, por 6/1 6/3 e conquistou um dos maiores títulos da carreira, em uma das situações e chaves mais duras que ele já teve.

A comemoração foi com um churrasco na casa de amigos em Cincinnati.

Afinal, no dia seguinte, já estaríamos na estrada rumo a Indianápolis…. Só para lembrar, em que Guga chegaria a outra final, mas desistiria com dores no braço, no meio do jogo, contra o Rafter.

Mas isso quase ninguém lembra. O que fica na memória é a íncrivel semana em Cincinnati, em que em seis dias ele venceu três campeões de Grand Slam, incluindo dois ex-números um do mundo e seis top 30 (três top 10) no caminho para o título, em seis dias.

Descubro olhando o media guide do torneio para checar as informações que a media de vitórias do Guga em cima de jogadores bem ranqueados é histórica e única no torneio = 13.8.

Depois do Guga ter jogado a semi e a final no mesmo dia, os torneios mudaram a programação dos jogos para sempre, não deixando tanto tempo de diferença entre uma semifinal e a outra.

Diana Gabanyi