Guga – especial 20 anos de Roland Garros

Hoje, dia 26 de maio marca 20 anos do início de uma trajetória que mudaria para sempre a história do tênis no Brasil. Gustavo Kuerten vencia o primeiro de sete jogos para conquistar Roland Garros. Vencia o checo Slava Dosedel, por 6/0 7/5 6/1,o adversário que sempre lhe causava problemas.

Tennis View acompanhou de perto todas as conquistas do Guga em Paris e vai fazer um especial para marcar as duas décadas do momento histórico.

Vamos publicar um texto por dia, até o dia 08 de junho para relembrarmos a história.

Há 20 anos Guga transformava para sempre o tênis no Brasil.

Por ser disputado no saibro e, claro, ser um Grand Slam, Roland Garros sempre teve destaque especial no calendário dos tenistas da América Latina. Mas, desde o dia 8 de junho de 1997, a relação dos brasileiros e dos latino-americanos com Roland Garros nunca mais foi a mesma: transformouse em um caso de amor.

Foi nesse dia 8 que Gustavo Kuerten, aos 20 anos de idade, um tenista de Santa Catarina, então 66º colocado no ranking mundial, conquistava o que viria a ser o primeiro de seus três títulos em Paris.

Uma conquista que parecia inimaginável para o tênis do Brasil e também da América Latina. Na época, eram apenas cinco latinos entre os top 100 da ATP (Marcelo Rios era o 10º; Marcelo Fillipini, o 53º; Hernan Gumy, o 64º; Guga, o 66º; e Meligeni, o 88º).
Como sonhar em ganhar um Grand Slam, em um momento em que o tênis era dominado por Pete Sampras, Michael Chang, Goran Ivanisevic, Thomas Muster, Yevgeny Kafelnikov, Carlos Moyá e Alex Corretja, entre outros grandes?
Como acreditar que um brasileiro, que nunca havia vencido um torneio ATP e, uma semana antes de Roland Garros começar, ganhara um torneio Challenger, em Curitiba, poderia terminar a quinzena em Paris recebendo a “Coupe des Mousquetaires” das mãos de Bjorn Borg?
Como pensar que um jogador do Brasil, um país que havia alcançado com Thomaz Koch, no máximo, as quartas-de-final de torneios do Grand Slam, e do qual só se ouvia falar, ocasionalmente, pelas conquistas da “bailarina” Maria Esther Bueno, num passado distante, pudesse triunfar no mais extenuante dos Grand Slams?
Como imaginar que o menino do sorriso contagiante, andar desengonçado, hóspede do simples hotel Mont Blanc, e que, aos 15 anos de idade, levado a Roland Garros pela primeira vez por seu técnico Larri Passos se escondia nas arquibancadas para poder assistir a todos os jogos, conseguiria vencer os três últimos campeões de Paris (Muster, Kafelnikov e Sergi Bruguera) para triunfar?

Como vislumbrar uma conquista que tinha como desafios superar Slava Dosedel; Jonas Bjorkman, então 23º colocado no ranking mundial; Thomas Muster, o quinto do mundo na época, e depois de estar perdendo o quinto set por 3×0; Andrei Medvedev, o ucraniano 20º do ranking, mais jovem campeão do Masters Series de Hamburgo, em uma partida interrompida no meio, em que o adversário liderava o placar; Yevgeny Kafelnikov, o defensor do título em 1997; Filip Dewulf, o belga que veio do qualifying; e, por fim, o bicampeão, o espanhol Sergi Bruguera?
Como eles fizeram?
Gustavo Kuerten e Larri Passos acreditaram que podiam e foram, jogo a jogo, acreditando ainda mais, até chegarem à final para arrasar Bruguera por 6/3 6/4 6/2 e transformar, para sempre, a história do tênis no Brasil e na América Latina.

Como imaginar o tênis do Brasil, há mais de 10 anos? O tênis do Brasil antes da primeira das conquistas de Guga em Paris?

Talvez o País não tenha visto surgir outros grandes nomes, outros campeões de Grand Slam, outros top 10, top 20, como se chegou a imaginar que aconteceria, mas o efeito do triunfo de Guga é tanto e tão importante que é difícil avaliá-lo.

Roland Garros Há 10 anos, Guga transformava, para sempre,
o tênis no Brasil.

Diana Gabanyi

Texto publicado originalmente (e atualizado) na edição 81 da Revista Tennis View