Stephanie agarrou a oportunidade do circuito universitário e agora é treinadora nos EUA

Stephanie Dalmacio 3 peqParaense por nascimento, mas “candanga” de coração, Stephanie Dalmacio é mais um exemplo de que aliar esporte e educação tem tudo pra ser sinônimo de muito sucesso.

Em 2006, aos 18 anos, um ano depois de ser campeã brasileira juvenil, ela rumou para os Estados Unidos em uma empreitada que misturou o desconhecido e a motivação em agarrar aquela oportunidade única: Estudar Gestão Desportiva e jogar tênis representando a Wichita State University, no Kansas, apoiada pelo Daquiprafora, umas das principais empresas no assessoramento de atletas e estudantes para universidades nos Estados Unidos, e da Fundação Lemann, reconhecida por auxiliar tenistas, entre outros, a irem para os Estados Unidos jogar o circuito universitário em várias modalidades esportivas.

Dali em diante, não parou. E não voltou! Seguiu carreira nos Estados Unidos, fez mestrado e obteve muito sucesso. Confira um pouco da trajetória da Stephanie:

Você foi para o Estados Unidos em 2006, certo? Como surgiu a oportunidade de ir para lá?

Sim, eu comecei minha carreira em 2006 depois que tive bons resultados em 2005, meu último ano de juvenil, quando ganhei o Campeonato Brasileiro. Depois disso, tive a ajuda do Daquiprafora para começar o processo de bolsas e universidades que poderia ir.

Em qual lugar você nasceu e morava aqui no Brasil? Como era sua vida jogando tênis aqui?

Eu nasci em Belém, Pará, mas me mudei para Brasília quando tinha 5 anos de idade, então também me considero Candanga. Eu sempre joguei todos os esportes que podia e foi aos 11, quase 12 anos de idade que decidi me dedicar ao tênis. Tive muita sorte de ter pessoas que realmente acreditaram no meu potencial, como o meu primeiro treinador, Marcelo Machado. Ele foi a pessoa que me incentivou e me fez amar o tênis desde que me chamou para bater a primeira bola, numa de suas aulas particulares com o meu padrasto. Depois disso, foi bem fácil tomar a decisão. Foi amor à primeira batida e eu era muito viciada. Se não estava na quadra treinando, eu estava de ajudante nas suas aulas, batendo ou catando bola, ou batendo sozinha no paredão do Clube Apcef. Aos 14 anos, comecei a jogar torneios em Brasília, de classe e juvenil, e não demorou muito para jogar torneios nacionais e a liga COSAT na América do Sul. Aos 16, comecei a jogar os meus primeiros torneios profissionais de Future e ganhei alguns pontos, chegando a ficar entre 900-950 do ranking WTA. Infelizmente, depois de jogar 6-8 meses desses torneios, eu perdi o patrocínio que tinha e tive que parar de viajar. Foi um momento bem difícil porque eu ainda era muito nova e realmente queria estar no topo do ranking profissional. A melhor opção pra mim depois disso foi fazer universidade nos EUA com bolsa completa e ainda jogar um nível alto de tênis. Eu ainda pensava jogar profissionais aqui, mas por causa de tempo e dinheiro também não foi viável.

 

Além da graduação, continuou exercendo outras atividades nos EUA?

Continuei minha vida no tênis universitário aqui. Depois de me formar, fui Graduate assistant para conseguir bolsa de mestrado em Psicologia Esportiva e depois comecei minha carreira de treinadora como assistente aqui em Bowling Green State University, em Ohio. Eu hoje sou a treinadora principal (Head Coach) da universidade, que é  Divisão 1 e jogamos na Mid-American Conference. Então sim, continuei minha carreira nos esportes porque eu sempre quis dar a oportunidade de volta a atletas que também não tem ou tiveram os meios financeiros para jogar o circuito profissional. Também acho que o tênis universitário te dá oportunidades incríveis de crescer, não só como tenista, mas como ser humano e profissional em qualquer área que você escolher. Sou muito agradecida ao tênis e a vida que esse esporte me proporcionou aqui nos Estados Unidos.

Qual foi a universidade escolhida? O que você cursou?

Eu escolhi Wichita State University, no Kansas, porque me pareceu a melhor opção para ainda melhorar como atleta. Quando eu cheguei, o programa não tinha tido muitas conquistas nacionalmente. Junto com as minhas parceiras de equipe, sempre soubemos que poderíamos quebrar recordes e elevar o nível do programa. Foi o que fizemos e atá hoje temos nossas fotos nas paredes da universidade. Tive a honra de representar a universidade no torneio nacional de All-Americans no meu terceiro ano e chegamos a ser top 20 no ranking da NCAA. Essas são coisas que nunca vão se apagar da memória de nenhuma de nós. E mais que isso: sempre vamos ter essa família que o esporte nos deu. Todos os momentos, bons e ruins, foram o que nos transformaram em adultos bem sucedidos hoje, mesmo sendo em diferentes partes do mundo. A isso também tenho que agradecer ao meu primeiro treinador aqui, Chris Young, e sua assistente Courtney Steinbock. Hoje eles são treinadores de Oklahoma State e Houston e são pessoas que eu sempre vou ter como exemplo.

Qual era a sua expectativa quando partiu para os EUA?

Eu não sabia muito o que esperar quando entrei no avião para vir, quando tinha 18 anos. Eu sabia que era uma oportunidade que eu não poderia deixar passar e só o que podia fazer era agarrar com unhas e dentes e começar a construir meu futuro.

Quais foram as principais dificuldades? Já sabia falar inglês fluentemente?

Não falava inglês e foi bem difícil no começo, mas as pessoas foram muito simpáticas e sempre me ajudaram no que precisei. Tive que fazer o curso intensivo de inglês nos primeiros 6 meses até passar no Toefl da universidade. A outra dificuldade sempre foi a comida. No Brasil, estamos acostumados e comer tudo orgânico. A facilidade de encontrar os produtos e o preço ajudam os brasileiros a terem uma dieta mais saudável. Esses mesmo produtos aqui são muito caros e muitos deles você não consegue encontrar. Só depois de um tempo você consegue controlar o que come. Cozinhar ajuda bastante, te dá o controle do que você esta colocando no seu corpo e fica mais barato também.

Você teve algum apoio de alguma instituição para essa empreitada? Se teve, conte qual(is) e como foi.

Eu tive o apoio do Daquiprafora e das bolsas da Fundação Lemann para vir. Eles me ofereceram as bolsas completas depois de terem me visto no circuito brasileiro em 2005.

Além do tênis, o que você faz atualmente?

Sou Head Coach aqui em BGSU e adoro meu trabalho. É muito interessante estar do outro lado e encontrar as suas próprias formas de criar um time e recrutar as jogadoras que você sabe vão se esforçar e melhorar a cada dia. O reconhecimento não é tanto os troféus, mas sim as suas jogadoras melhorando a cada dia e tendo conquistas dentro e fora das quadras. Eu me sinto muito orgulhosa de poder ser parte de um pedacinho desse sucesso.

Você pretende seguir trabalhando com o tênis ou pretende fazer outra coisa?

Eu pretendo seguir com a minha carreira de treinadora aqui. Gostaria muito de dar os passos certos e chegar à uma universidade maior onde possa conquistar maiores títulos, ter mais ajuda financeira para chegar ao topo do ranking universitário.

Você recomenda a experiência de jogar nos EUA aos jovens brasileiros?

Eu recomendo muito à todos os atletas brasileiros jogar o tênis universitário, mesmo que ainda queiram jogar profissionalmente. Isso pode ser uma ponte para jogar mais torneios e ter melhores resultados e ainda assim conseguir uma educação com alguma ajuda financeira. Não trocaria a experiência que eu tive por nada e sou muito grata à tudo que o tênis nos Estados Unidos me proporcionou.