Federer, a despedida

O dia da despedida chegou.


Parecia em um certo momento algo natural, afinal o maestro Roger Federer não jogava há 14 meses, tentando se recuperar de mais uma cirurgia no joelho.

Mas, quanto mais o jogo de duplas com Rafael Nadal, contra Jack Sock e Frances Tiafoe foi avançando, mais lembranças de Federer comecei a ter.
Primeiro vieram as lembranças do início da carreira, quando convivi um pouco com ele no circuito.

A primeira vez que ouvi falar de Roger Federer. Ele havia vencido o juvenil de Wimbledon. Era 1998 e ganhara um wild card para disputar o ATP de Gstaad, onde eu estava com o Guga. Vi o campeão juvenil de Wimbledon lá, dando entrevista e sendo cotado para se tornar número um do mundo, apesar de ainda temperamental e muito jovem. As cenas dele na sala de imprensa no meio dos Alpes Suíços é muito fresca, como se fosse ontem.
Dali em diante começamos a vê-lo pelo tour. Lembro especialmente de Hamburgo 2002. Guga e Federer se enfrentaram nas quartas de final, com vitória do suíço. Na minha memória, além da infinidade de slices daquele jogo, Federer e seu time sempre rindo na sala dos jogadores – na época o ténico era o Peter Lundgren – e jogando cartas o dia todo.


Depois veio o confronto em Indian Wells, em 2003, com vitória contundente do Guga e o que todo mundo sempre lembra, o jogo em Roland Garros 2004. Federer já era favoritíssimo. Guga tentava se recuperar da lesão no quadril. Mirka era presença constante. Guga não deu chances.
Dali pra frente a carreira do Guga não foi mais a mesma e nem a de Federer. Acumulou 20 Grand Slams, 310 semanas como número um do mundo e transcendeu o esporte.


Ele amou o tênis como nenhum outro jogador, talvez como Nadal. Aproveitou cada momento no tour. Soube dosar as viagens para que fossem prazeirosas, levou a família com ele para todos os lugares, tratou pessoas como pessoas, olhou nos olhos, estendeu a mão, sorriu, deu autógrafos, tirou incontáveis fotos, sem nunca reclamar. Deu entrevistas honestas, em inglês, francês e alemão. Durante 17 anos fez parte do conselho dos jogadores. Transformou rivais em amigos, ou ao menos bons colegas. Fez o mundo todo chorar, até o seu grande rival Nadal.


Não haverá outro como Federer. Mas aqui não sinto tristeza. Sinto alegria de poder ter visto de muito perto e depois mais de longe tudo o que ele conquistou e fez para o nosso esporte. Um privilégio ter assistido Federer por mais de 20 anos.

Diana Gabanyi

Fotos de Ben Solomon