Depois de furar o quali do Rio Open, boliviano Dellien, elogiado por Evo Morales, sonha com título de Roland Garros

Já é um fato a importância de Hugo Dellien para o tênis da Bolívia. Porém, sua entrada no top-100 do ranking da ATP em 2018, pela primeira vez na carreira, não foi exatamente uma surpresa para o dedicado jogador nascido em Trinidad, histórica cidade boliviana fundada no século XVII e com menos de 100 mil habitantes.

Ex-nº 2 do mundo, o atual nº 113 do ranking vai jogar no Rio de Janeiro a sua segunda chave principal de ATP (entrou como lucky-loser no ATP de Cordoba), depois de furar o qualifying do Rio Open, neste domingo. Na primeira rodada, já nesta segunda-feira, ele encara o argentino Guido Andreozzi.

Depois de 34 anos sem um top-100 boliviano, Dellien se tornou apenas o segundo jogador do seu país a ocupar essa faixa do ranking, depois do seu compatriota Mario Martinez. E essa falta de tradição da Bolívia no esporte é confirmada pelo próprio jogador, que falou da emoção depois de conseguir sua segunda vitória no Rio de Janeiro:

“Estou muito contente por passar no primeiro quali de ATP e logo um 500. Estou muito emocionado, muito contente porque já vinha na gira Sul-Americana em Cordoba e Buenos Aires (dois ATP’s 250 na Argentina) perdendo na última rodada do quali, com três match points perdidos em Cordoba. Hoje me passou algo similar, mas consegui fechar no tiebreak (do segundo set)” afirmou o jogador de 25 anos, que joga pela primeira vez no Brasil como profissional, sem se assustar com as condições mais quentes da capital carioca:

“O tempo está bom, com muita umidade, mas sem muito calor. É o primeiro ano que venho (para o Rio Open), mas já joguei torneio juvenil e é muito calor. Sou da Bolívia, de Trinidad, são condições praticamente iguais, talvez até um pouco mais de calor.”

Mesmo nascido em país sem muita História no esporte, Dellien não vê isso como um fator decisivo para não ter sucesso no tênis:

“É difícil, difícil, mas eu creio que é possível. Não importa o lugar que você nasceu, se tem tradição, se não tem tradição. Se você quer crescer, a sua vontade está acima de qualquer coisa. Com a vontade que eu tenho, com a atitude que tenho em cada treinamento, em cada partida, creio que eu possa triunfar.”

Aliás, jogar tênis não foi sua única opção, já que ele era praticamente um triatleta durante sua infância, optando pelo tênis por volta dos 9 ou 10 anos:

“Na minha cidade tinha três clubes. Um de tênis, um de natação e um de futebol. E eu joguei os três esportes. Joguei torneios nacionais nos três e o que eu mais gostei foi o tênis. Com 9, 10 anos eu escolhi…na verdade não escolhi. O caminho foi me levando pro tênis.”

Em 2018, depois da conquista do seu primeiro Challenger, em Sarasota, nos Estados Unidos, o boliviano recebeu um elogio via Twitter do presidente do país, Evo Morales, que escreveu:

“Felicitar al hermano Hugo Dellien, número uno del tenis boliviano, por su primer título individual en el circuito de la Asociación de Tenistas Profesionales (ATP), en el torneo Challenger de Sarasota. Por llevar a Bolivia tan alto en el tenis internacional, estamos muy orgullosos”

Dellien fez questão de mostrar sua emoção com esse momento, por levar alegria não apenas ao presidente, mas para toda população do seu país:

“Foi muito lindo. Foi um momento muito lindo. Na verdade, me orgulhei muito, pois é uma luta muito grande. O tênis é muito sacrifício. Sofre muito, pois se perde mais do que se ganha…então, quando recebi esse tipo de felicitação, quando todo país se colocou feliz por você triunfar…isso, na verdade, isso dá muita satisfação a todo desportista.” disse Dellien, que reconheceu que isso não significou uma mudança no que se refere ao apoio financeiro estatal:

“Agora tenho alguns patrocínios, de empresa privada. Não é muito, mas antes não tinha nada. Pelo menos agora estão pensando em focar mais no tênis. E esse é meu objetivo, que eles foquem mais no tênis.”

Por fim, de forma muito coerente, ele falou sobre seus planos pra temporada 2019, que inclui o estabelecimento como jogador de ATP:

“Meu objetivo neste ano é me consolidar no top-100, pensar em trocar meus pontos de Challenger por ATP e me consolidar nos ATP.”

Um título dos sonhos?

“Roland Garros! Me encantaria ganhar Roland Garros ou Wimbledon.” finalizou.

Foto: Fotojump