Memórias do bicampeonato: Guga bate Norman e conquista o seu 2º título em Roland Garros

GUGA É CAMPEÃO EM ROLAND GARROS

Brasileiro conquista o bicampeonato em Paris e a liderança da Corrida dos Campeões

Com um tênis espetacular, digno de melhor jogador da temporada, Gustavo “Guga” Kuerten entrou mais uma vez para a história do tênis mundial, neste Domingo, ao conquistar pela segunda vez o campeonato de Roland Garros. Para garantir a vitória, Guga teve que salvar 11 match points, diante do sueco Magnus Norman e ao fim de 3h44min pôde erguer o troféu, tendo superado Norman, por 3 sets a 1, parciais de 6/2 6/3 2/6 7/6 (6).

Campeão do torneio em 97, Guga entrou na quadra central do complexo, solto e arrasador. Saiu quebrando o primeiro serviço do sueco, que antes de perder a partida ocupava a liderança da Corrida dos Campeões, e repetiu a quebra no 2×0, chegando a fazer 4×0 em Norman. No 5/2 sacou para o primeiro set e com uma curtinha de direita fechou o primeiro set. Na Segunda série, Guga repetiu a quebra no primeiro game e novamente no quarto, abrindo 5/1. No 5/2 o sueco quebrou o serviço de Guga, mas ele devolveu em seguida, fazendo 6/3 e ficando com dois sets a zero. Na terceira série, foi Norman quem quebrou os serviços de Guga, no 2×2 e no 4×2, fechando o set em 6/2, com um ace.

O quarto set foi uma verdadeira luta. Norman saiu quebrando o serviço de Guga. No game seguinte foi Guga quem quebrou o saque do sueco. No 2×2 outra quebra a favor de Guga. No 3×4, Guga devolveu e no 5/4, no saque de Norman começou o primeiro de uma série de 11 match points que levariam Guga ao topo novamente. Neste game foram três match points, que Norman salvou com bolas na linha, especialmente a primeira, em que Guga já comemorava a vitória. Mas, Guga manteve-se focado e voltou a Ter quatro match points no 6/5, no saque de Norman. Sem conseguir fechar a partida, a decisão foi para o tie-break.

O primeiro match point de Guga no tie-break veio no 6/3. Norman, no entanto não se entregou e foi só no 7/6, que Guga finalmente conseguiu selar a Segunda vitória em Roland Garros, com uma bola de Norman que ficou fora.

Emocionado, logo após erguer os braços em ar de consagração, Guga foi logo abraçar o técnico Larri Passos, que o acompanha há 10 anos e sempre acreditou que seu pupilo estaria entre os melhores do mundo e também ao amigo, Antônio Carlos de Almeida Braga.

Em seguida, recebeu o troféu das mãos de Boris Becker, e no discurso agradeceu ao técnico, ao irmão Rafael, a avó Olga Schlosser, que chegou ontem a Paris, a Braga, aos amigos, o público e também mandou um beijo à mãe Alice e ao irmão mais novo, Guilherme, que assistiram à vitória pela televisão, em Florianópolis.

“Aqui estou de novo. Feliz por este momento. Eu estava muito nervoso no final do jogo. Foi aqui que eu apareci pela primeira vez, para ganhar o meu primeiro torneio em 97. Foi aqui que meus sonhos começaram a se tornar realidade. Não achei que pudesse voltar aqui e vencer,” disse Guga com o microfone na mão. “Também gostaria de parabenizar o Norman. Nós dois merecíamos estar aqui hoje.”

Após o discurso, Guga posou para fotos com o troféu, acenou para todos os lados da quadra, especialmente para o box onde estavam os amigos e familiares, estourou garrafa de champagne e saiu da quadra ovacionado pela torcida, que tanto o apoiou desde que começou a vencer os grandes jogos em 97.

Outro que estava emociona era o técnico Larri Passos, que conseguiu fazer de Guga o bicampeão de Roland Garros. “Ele estava forte física, psicológica e taticamente. Estava muito bem orientado,” afirmou.

Durante a partida final, Guga marcou nove aces, três duplas-faltas, teve 49% de aproveitamento do primeiro serviço, venceu 73% dos pontos com o primeiro saque, cometeu 69 erros não forçados, fez 17 winners de direita, 10 de esquerda, deu 8 passadas, fez 3 curtinhas e teve 58% de aproveitamento na rede.

“No primeiro ano que eu ganhei aqui, as coisas aconteceram, eu apareci e foi uma surpresa para todo mundo. Muita gente ficou na dúvida se eu iria chegar lá mesmo. Eu nunca duvidei, mas hoje, a vitória veio selar o fato de eu estar entre os melhores do mundo. Veio tudo no momento certo. Estou confiante e sei que posso jogar de igual para igual com todos os jogadores,” disse Guga.

Campeão em Roland Garros, Guga assumirá na Segunda-feira a liderança da Corrida dos Campeões, o ranking que conta os resultados da temporada, com 505 pontos. No ranking mundial, chamado de Entry System, Guga marcou 1000 pontos e deve melhorar a sua atual posição de número cinco.

“Estou feliz de estar em número um na corrida, mas para mim o que vale mesmo é o entry system. No começo do ano as pessoas comentavam que eu estava fora dos 100 e que nem era o número um do Brasil e eu sempre defendi o outro ranking. Esse ranking da corrida não avalia a carreira do jogador e sim reflete o atual momento. Provei, com os meus últimos resultados, que sou o cara que estou jogando melhor no momento.”

Para comemorar o bicampeonato, feito apenas conseguido por Jan Kodes, Ivan Lendl, Guillermo Vilas, Jim Courier, Mats Wilander e Sergi Bruguera, na Era Aberta, Guga sairia para jantar com os familiares e amigos mais íntimos. “Quero curtir esse momento com o meu técnico, meu irmão e os amigos. Quero fazer as coisas que gosto e ficar tranquilo,” comentou Guga, aproveitando para agradecer a compreensão e paciência da imprensa que o acompanhou desde a chegada em Paris até o ponto final da vitória sobre Norman, respeitando os momentos de tranquilidade do atleta. “Eu precisava do tempo para descansar e me concentrar. Foi um lado muito importante para mim e vocês me ajudaram muito desta maneira.”

Na segunda-feira, Guga (Banco do Brasil/Diadora/Head/ Pepsi/Rider/Globo.com) posará para fotos às 14h no Trocadero e à noite deverá regressar ao Brasil.

Australian Open – Sem nostalgia

Durante muito tempo, quando começavam os Grand Slams me dava sempre uma nostalgia. Afinal, durante uma década a meia o meu calendário se baseava na agenda do circuito profissional. As semanas dos Grand Slams, com rara exceção do Australian Open, indicavam que lá estaria eu com o Guga, fazendo as minhas matérias também para a Tennis View e depois que ele encerrou a carreira, com algum outro compromisso profissional e a própria Tennis View.

Nos últimos dois anos, por inúmeras razões, acabei não indo a nenhum Grand Slam e acompanhando e reportando daqui do Brasil mesmo. A cada ano essa nostalgia diminui. Afinal, já faz 10 anos que o Guga se aposentou. Mas, foi tudo muito intenso, a história foi escrita, amizades foram feitas e a verdade que estar em um Grand Slam é estar no auge do esporte em si e também nos relacionamentos. Jornalistas do mundo todo, agentes, Rps, as marcas, os fãs, todos estão nestes eventos. E é disso que mais sinto falta, desta conexão.

Curiosamente, quando chega o Australian Open, não tenho essa nostalgia.

Sei que o Grand Slam evoluiu muito, praticamente se transformou, desde a última vez que estive “down under” há 15 anos.

Mas, com a desgastaste viagem e o pouco tempo que por lá fiquei – o Australian Open foi o pior Grand Slam do Guga – não desenvolvi laços naquelas terras. Nunca me encontrei muito no complexo. Achava tudo meio confuso e a cidade tão pequena, se comparada a Paris, Londres e Nova York, para sediar um Slam. E, quando começava a entrar no fuso horário já era hora de voltar para casa.

A sensação que tenho ao começar o torneio em Melbourne é justamente a contrária: “Ai que bom que vou acompanhar do sofá de casa.”

Isso não quer dizer que o Grand Slam não tenha relevância ou seja empolgante. Tem tudo isso e o atrativo especial de estar no começo da temporada, quando não sabemos muito o que esperar do circuito.

É comum ser o Grand Slam onde acontecem “bombas” de notícias. Justamente por ser o primeiro grande do ano onde todos se reúnem. Este ano começou com o Andy Murray anunciando o fim da sua luta com o quadril. E nas próximas duas semanas muitas outras notícias vão rolar. A mais quente do momento é o “Player Council” e a decisão de manter ou não Chris Kermode no cargo de CEO da ATP. Mas, estamos apenas começando. Temos 2 semanas de muito tênis e muito bastidor do circuito para acompanhar.

Diana Gabanyi

Guga é homenageado com o troféu Men of the Year

Guga recebeu ontem (27) no Rio de Janeiro o troféu Men of the Year, na categoria Ícone GQ. A revista homenageou 17 personalidades que marcaram o ano de 2018. Guga encerrou a noite do evento, recebendo a premiação do ator Lázaro Ramos que descreveu a trajetória de Guga como inspiracional, citando as conquistas no esporte e os projetos do Instituto Guga Kuerten.

Uma das capas da edição da GQ de dezembro, Guga agradeceu a homenagem com uma mensagem de esperança. “A gente tem muito a aprender com o outro. Essa curiosidade de seguir em frente, de continuar caminhando e descobrindo alternativas é o maior trunfo do brasileiro. Nossa essência é criativa, comunicativa, a gente quer solucionar… E é por isso que eu tenho um orgulho enorme em representar o Brasil”, declarou.

Essa é a segunda vez que o tricampeão de Roland Garros é homenageado no Men of the Year. Em 2015, Guga recebeu a premiação na categoria Responsabilidade Social, em função das ações promovidas pelo Instituto Guga Kuerten.

Foto: Selmy Yassuda