Mais uma conquista de Yannick Noah

Maior personalidade da França no esporte e na música por muitos anos seguidos, último campeão de Roland Garros (em 1983), Yannick Noah estava um pouco afastado do esporte quando resolveu assumir o cargo de capitão da Copa Davis, novamente, em 2016. Jogava algumas exibições – inclusive veio ao Rio em 2012 jogar no Jockey Club Brasileiro -, manteve o seu projeto Fete le Mur, espalhando o tênis pela França, mas queria mais é saber de tocar (e olha que ele chegou a levar 80.000 pessoas ao Stade de France), suas músicas ficaram no hit parade por semanas seguidas e aproveitar a vida e a família.

Mas, ao ver a França perder para a Suíça de Roger Federer, no mesmo estádio de Lille, onde hoje conquistou a sua 10a saladeira, Yannick Noah não se conteve.

Criticou os jogadores, criticou a estrutura criada em volta e criticou o então capitão Arnaud Clement, ex-jogador e mais amigo dos tenistas que um líder do time.

Se colocou `a disposição da Federação Francesa para fazer a equipe ganhar a Davis. Seu antecessor e sucessor – quando ele deixou o posto pela primeira vez depois das conquistas de 1991 e 1996 – chegou a vencer a Taça em 2001, diante da Austrália, mas com o passar do tempo já não tinha tanta influência sobre os jogadores.

Noah reclamou do buzz midiático em volta da equipe exagerado; criticou a falta de entrega dos jogadores que pareciam não estar lá e colocou como missão mostrar os valores da Davis para os tenistas.

Foi difícil no começo. Essa geração, que nunca havia ganhado a Davis até hoje diante da Bélgica, nem venceu Grand Slam, vem sendo considerada há mais de década como a melhor era de jogadores franceses. Tsonga, Monfils, Gasquet, Simon, os mosqueteiros modernos, mais o jovem Pouille, Herbert, Mahut, Bennetteau, estavam todos vendo o tempo passar.

Noah msotrou a todos que o tempo estava voando e não estava passando. Precisavam mudar de atitude rapidamente.

No começo não foi fácil. Teve desavenças com alguns jogadores. Chamou Pioline para trabalhar ao seu lado e foi com as suas convicções para o circuito.

Aos poucos foi mostrando seu estilo de trabalhar e convencendo jogadores da importância de jogar aqueles confrontos na Ásia, ou em outro tipo de piso no meio da temporada, logo depois de um Grand Slam.

Com isso foi unindo a equipe e os egos foram diminuindo. Hoje todos se tornaram heróis, graças ao maior herói da Franca, Yannick Noah. (link para um outro texto que escrevi sobre ele, para conhecer mais do mito).

A história improvável de Noah, que foi descoberto por Arthur Ashe – detalhes deste encontro são relatados no livro do Richard Evans, The Roving Eya – em um tour pela África, nos Camarões, continua.

Diana Gabanyi

Pouille vence o ponto decisivo, França bate Bélgica e conquista o 10º título da Copa Davis

Depois de 16 anos, a França voltou a conquistar o título da Copa Davis, principal competição entre países do tênis, que teve a final disputada neste fim de semana, em Lille, na França.

Depois de um primeiro dia empatado e a vitória francesa nas duplas, no sábado, os franceses precisavam de mais um ponto, mas viram uma ótima partida do belga David Goffin no primeiro jogo do dia, que acabou com vitória por 3×0 sobre Jo-Wilfried Tsonga.

Coube então ao mais inexperiente da equipe no torneio, Lucas Pouille, a tarefa de disputar o 5º e decisivo ponto e ele correspondeu às expectativas.

Em grande atuação, não deu chances ao belga Steve Darcis e venceu em sets diretos, com parciais de 6/3 6/1 e 6/0.

“Estou tão orgulhoso da minha equipe. Nós realmente queríamos muito esse troféu e finalmente o conseguimos depois de 16 anos” disse Pouille.

O capitão francês, Yannick Noah, fez questão de ressaltar a atuação do jogador que fechou o confronto: “Que grande final! Ter o Lucas jogando em sua cidade natal e vencedor do último jogo de Copa Davis, jogando como ele jogou…é tão lindo” afirmou Noah.

Com isso, a França conquistou o seu 10º título de Copa Davis, enquanto a Bélgica segue em busca do primeiro triunfo.

Tsonga faz a França sonhar

Há 30 anos a França espera um novo campeão de Roland Garros. Este ano em especial, quando o Grand Slam francês comemora as três décadas da vitória de Yannick Noah, o assunto não saiu das manchetes desde antes do torneio começar. E agora Jo-Wilfried Tsonga está a dois jogos do Trophée des Mousquetaires.

Hoje quando cheguei em Roland Garros a ideia era escrever sobre a loja, o museu e outras coisas off court, mas com tamanha euforia e agora tão perto de fazer história, não dá para ignorar que a França toda se volta para Tsonga. Desde a entrada pela porta Marcel Bernard, de manhã, já percebi o ambiente do torneio completamente diferente dos outros dias. Dia de quartas-de-final, menos pessoas pelo complexo nas primeiras horas do dia – os jogos começavam apenas às 14h. Com partidas em poucas quadras, menos gente circulando e um zum zum zum no ar, na sala de imprensa, nas cabines de televisão, na sala dos jogadores, sobre uma possível vitória de Tsonga diante de Federer.

A imprensa toda francesa deu destaque para o número do país, como vem dando há muito tempo. Outro dia, conversando com o pessoal da ATP, no Centre de Presse, vi um monte de jornalistas chegando que nunca havia visto e perguntei quem eram. A imprensa francesa para a coletiva de Tsonga. A imprensa francesa não especializada, de notícias diárias, até não esportivas, esperando por uma nova glória em Porte D’Auteil.

O ambiente na quadra estava eletrizante, ou melhor, arrepiante. Foi o primeiro dia que vi todos os lugares tomados e com o sol, a imagem da Philippe Chatrier, fica ainda mais bonita. Homens e mulheres, elegantemente vestidos, usando o chapéu panamá para vivenciar o inédito. Até os lugares reservados aos jogadores do torneio para assistir a partida estavam lotados.

Antes mesmo do jogo terminar, nos últimos games, as pessoas já estavam aplaudindo de pé cada ponto vencido por Jo-Wilfried Tsonga.

E quando terminou, com vitória por 75 63 63, Tsonga pulou, rodopiou em quadra e o público aplaudiu e ficou em quadra, como se não estivesse acreditando que um francês acabara de derrotar Roger Federer e avançar à semifinal.

Foi uma das minhas maiores vitórias. É Roland Garros, na quadra central e ainda ganhando do Federer. Com certeza ninguém esperava isso de mim no passado. O torneio ainda não acabou. Espero que tenha mais. Mas ainda não posso fazer a festa, gritar e sair comemorando.”

Nos últimos 15 anos, houve jogador francês na semifinal apenas três vezes. Em 1998, com Cedric Pioline, com muito mais cabelo do que vemos hoje nas entrevistas em quadra; Sebastien Grosjean, em 2001 e Gael Monfils, em 2008.

O último jogador francês a disputar uma final em Paris foi Henri Leconte, há 25 anos e ele foi derrotado pelo tenista que perdera a final para Noah, em 1983, Mats Wilander.

Tsonga hoje com 28 anos, mais maduro do que quando disputou a sua única final de Grand Slam no Australian Open, há cinco anos, tem a chance de virar herói nacional, de, como eles gostam de falar, “basculer”a França e sabe disso.  Quando Noah venceu, a loucura foi tanta que ele teve que se mudar para Nova York para viver mais tranquilamente. Chegou a passar por um período de depressão depois de tamanha euforia.

E Tsonga, tanto sabe da importância deste momento, que se preparou para este momento. Há alguns meses, depois de um período sem técnico, contratou o australiano Roger Rasheed. Tirou o gluten da dieta, emagreceu e quando Roland Garros chegou entendeu que apesar de ser o seu torneio, na sua casa, entendeu que tinha que jogar para si próprio.

Ontem, em vez de treinar em Roland Garros e ficar no meio do burburinho, com todos os olhos dos franceses, da FFT, dos técnicos, dirigentes, jogadores, público e imprensa, voltados para ele, foi treinar no Tennis Club de Paris, com um juvenil local.

Com muita calma e maturidade bateu um papo mais longo do que o tempo de treinamento com o jornal L’Equipe e parecia saber exatamente o que fazer .

“ Entrar nas disputas do ponto com ele, nas trocas de bola é difícil, mas é essencial. Ele dá um ace aqui, um winner lá e você não toca muito a bola. Mas, entrar na disputa é o que ele menos gosta e preciso levá-lo a esse ponto.”

E foi o que Tsonga fez. Apesar de não ter jogado bem, Federer deu todo o crédito para o francês. “Estou triste pelo jogo e pela maneira com que joguei. Tentei resolver a situação em quadra, mas ele simplesmente foi melhor.”

Para igualar o resultado de Henri Leconte, em 1988 e chegar à final, Tsonga terá que passar por David Ferrer, que assim como ele não perdeu nenhum set até agora em Roland Garros e diferentemente dele, nunca disputou uma final de Grand Slam.

“Ele ganhou de mim algumas vezes. Espero um jogo duro, mas estou em boa forma e vou fazer o meu melhor e ver como me saio. Vou para quadra com um objetivo e 100% das minhas possibilidades. Tenho que ficar concentrado e manter a minha rotina, fazer o que venho fazendo desde o início do torneio.”

“C’est Roland”

Ainda estamos na 2ª rodada – alguns jogaram a 1ª hoje – mas os franceses já começam a comemorar um bom Roland Garros. Tentei passar o dia acompanhando os jogos dos franceses para entender o que acontece com eles aqui e a resposta que mais ouvi, dos próprios jogadores, foi “C’est Roland”

Nesta quarta-feira, seis franceses saíram vitoriosos, com cinco avançando à terceira rodada (Monfils, Benneteau, Simon, Chardy, Tsonga) e um, Paire, à segunda. Em todos os jogos a torcida teve papel fundamental.

O primeiro pensamento que pode vir à cabeça é que isso é normal e acontece o mesmo em Wimbledon, no US Open e no Australian Open. Mas, no Reino Unido e na Austrália, há pouquíssimos jogadores na chave de simples e quando há mais do que o normal, costumam ser jogadores novos, convidados que não avançam. No US Open há um ambiente bom de torcida, mas é diferente. Aqui em Paris as pessoas vem assistir tênis, entendem do esporte e respiram Roland Garros durante 2 semanas, na cidade toda. Em New York, o público faz parte de um espetáculo, é um evento de entretenimento.

Este ano, com a data comemorativa dos 30 anos da vitória do último francês em Paris, Yannick Noah, em 1983, alguns jogadores disseram que estão sentindo mais a pressão, mas que isso é bom.

Além de ter assistido os jogos da maioria dos franceses em ação hoje e sentido a emoção da torcida, especialmente nas vitórias de Monfils, Benneteau e Paire, fui ouvir o que eles tinham a dizer sobre o quão especial é jogar em Roland Garros e porque, de repente, tudo acontece aqui.

Monfils, que ganhou de Berdych e Gulbis, falou: äqui há uma energia diferente, um espírito ótimo. A torcida está 100% me apoiando, sinto a pressão de uma maneira boa para mim. C’est Roland”

Benneteau, vencedor de Berankis em 4 sets e Kamke, em 5, falou “C’est Roland, por isso é especial. Sempre damos algo a mais.” E Benneteau precisará aparecer com algo a mais mesmo para derrotar Roger Federer na próxima rodada. “É no saibro, já ganhei dele, tudo pode acontecer. C’est Roland.”

O número um francês, Jo-Wilfried Tsonga confessou sentir uma pressão extra por ser o mais bem colocado de uma nação que não triunfa na própria casa há 30 anos, mas acha isso positive. “Sou francês, é na França e tem mais pressão, mas é positivo. Tenho tudo a meu favor para vencer e diria que nada para perder. Se eu perder, nada vai acontecer, mas se eu ganhar ou for longe, será algo enorme. Tenho que ficar concentrado e espero ir longe.”

Foto do Tsonga: Cynthia Lum

Foto do Monfils: FFT