Há 20 anos, Guga fazia grande partida, mas perdia pro Sampras na final de Miami em jogo de alto nível e marcações duvidosas

Há exatos 20 anos, no dia 02 de abril de 2000, Gustavo Kuerten entrava em quadra para fazer mais um grande jogo na sua carreira, na final do Masters 1000 de Miami – na época Masters Series – diante do norte-americano Pete Sampras, um dos maiores de todos os tempos, que jogava com o apoio da torcida.

Ainda nos tempos de finais em 5 sets, os dois jogaram em altíssimo nível por mais de 3 horas, em partida que acabou com vitória de Sampras por 6/1 6/7(2) 7/6(5) e 7/6(8).

A partida ficou marcada também por bolas duvidosas, especialmente uma no tiebreak do set decisivo. Em um tempo sem desafio, restou ao brasileiro e toda sua torcida a reclamação diante dos árbitros.

Meses depois, os dois se reencontraram, na semifinal da Masters Cup, em Lisboa, com vitória do brasileiro, que seguia para a final, pro título e pro topo do ranking.

Na chave de Miami, Guga passou por grandes desafios desde o início, encarando Arnaud Clement, Goran Ivanisevic, Gianluca Pozzi, Wayne Ferreira e Andre Agassi antes da final.

O jornal O Globo do dia seguinte reconheceu a grande atuação do brasileiro, com a capa abaixo:

Confira também em seguida o release pós-final, produzido pela Diana Gabanyi, editora-chefe da Tennis View e então assessora de imprensa do Guga:

GUGA É VICE-CAMPEÃO EM MIAMI
Próximo desafio é a Copa Davis
Gustavo “Guga” Kuerten fez de tudo, mas não conseguiu conter o jogo do norte-americano Pete Sampras, número dois do mundo e acabou ficando com o vice-campeonato do Ericsson Open, o quinto maior torneio do mundo. Neste domingo, na final, Sampras venceu Guga por 3 sets a 1, parciais de 6/1 6/7 (2) 7/6 (5) 7/6 (8), em 3h18min de um tênis espetacular.
Depois de um primeiro set complicado, em que não teve praticamente chances diante de Sampras, Guga teve seu serviço quebrado no 1×2 e no 1×5, perdendo por 6/1. Na segunda série a situação também começou bem complicada para o brasileiro, que perdeu seu saque no 2×2. Mas, quando o dono de 12 títulos de Grand Slam sacava para fechar o set, no 5×4, Guga conseguiu quebrá-lo e levar a decisão para o tie-break, em que atuou brilhantemente vencendo por 7/2 e empatando o jogo.
No terceiro set não houve quebras de serviço e Guga conseguiu se sair de situações difíceis, como três break points no 3×4 e a decisão foi outra vez para o tie-break. Desta vez, no entanto, mesmo tendo salvado dois set points, Sampras fechou o set e ficou com uma vantagem de 2 sets a 1.
Na quarta série, com a quadra central do Crandon Park alternando gritos de ole Guga e let’s go Pete, o jogo virou uma verdadeira guerra de jogadas fantásticas de ambos os tenistas e outra vez sem quebras de serviço a decisão do set foi para o tie-break. Sampras abriu 6/2 e teve quatro match points seguidos, que Guga salvou com excelentes serviços e devoluções de saque. No 6/7, mais um match point para o norte-americano e Sampras fez dupla-falta. Depois no 7/8, com outro match point, Guga conseguiu se salvar empatando tudo.Mas, no seu serviço uma bola de Sampras foi na linha, segundo o juiz e Sampras teve o sétimo match point, que não desperdiçou.
“Foi uma grande semana para mim, especialmente com o apoio da torcida brasileira que foi maravilhosa. Pelo menos tentei ganhar do Agassi e do Sampras no mesmo torneio, mas meu jogo não foi suficiente. De qualquer maneira estou feliz pela semana que tive e ter disputado essa final, pela primeira vez, foi incrível,” disse Guga, na cerimônia de entrega de prêmios.
Durante o jogo Guga marcou 16 aces, quatro duplas-faltas, teve 57% de aproveitamento do primeiro serviço, venceu 68% dos pontos com o primeiro saque, fez 54 winners, 19 erros não forçados, 68% de aproveitamento na rede e 147 pontos vencidos no total.
De acordo com os cálculos da ATP, com os 350 pontos conquistados por ter alcançado a final, Guga (Banco do Brasil/Diadora/Head/Pepsi/Rider), atual 6º colocado no ranking mundial, aparecerá na quarta posição nesta segunda e na Corrida dos Campeões, em que hoje é o 26º, será o oitavo.
Diana Gabanyi

ATP confirma Bruno Soares e Alexander Peya no ATP Finals. Melo e Dodig seguem em busca da vaga

Roland Garros 2013A ATP confirmou nesta semana que o mineiro Bruno Soares e seu parceiro, o austríaco Alexander Peya, estão confirmados no ATP Finals, que será realizado em novembro, em Londres.

Com quatro títulos ao longo da temporada (Brasil Open, Barcelona, Eastbourne e Montreal), será a primeira vez que a dupla vai disputar o torneio. Desta forma, Soares repete o feito de Carlos Kyrmayr e Cassio Motta, que foram os últimos duplistas do país na competição, em 1983.

Em 2008, Marcelo Melo e André Sá chegara muito perto da vaga, mas acabaram ficando como suplentes.

Até hoje, o maior destaque brasileiro no torneio que reúne os melhores da temporada foi Gustavo Kuerten, que ficou com o título em 2000, em Lisboa, depois de derrotar Pete Sampras e Andre Agassi na sequência, sendo o único tenista da história a conseguir tal feito, assumindo o topo do ranking em seguida.

Além de Soares, o Brasil ainda pode ter Melo na disputa. Depois da semi no US Open, ele e o croata Ivan Dodig estão em 6º lugar no ranking de parceria da ATP e seguem com boas chances de classificação.

Foto: Cynthia Lum

ATP lança livro comemorativo aos nos.1 e Guga, é claro, é destaque – com relato inédito

A ATP lançou oficialmente neste sábado, em Wimbledon, como parte da campanha Heritage, o livro comemorativo aos 40 anos da instituição do ranking e dos números um, com espaço apenas para aqueles que terminaram uma temporada no topo da listagem. E entre apenas os 16 anos, é claro, está Gustavo Kuerten.Gustavo Kuerten number 1

Guga, assim como os apenas outros 15 tenistas (Ilie Nastase, Jimmy Connors, Bjorn Borg, John McEnroe, Ivan Lendl, Mats Wilander, Stefan Edberg, Jim Courier, Pete Sampras, Andre Agassi, Guga, Lleyton Hewitt, Andy Roddick, Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic) que terminaram um ano (desde 1973 até hoje), no topo do ranking, ganhou 2 páginas no livro, com história e fotos marcantes.

O texto de Guga foi escrito por Peter Bodo – ele e Neil Harman se dividiram para fazer os 16 perfis – e para a minha surpresa, provavelmente mais mérito do Guga do que do repórter, li algo que durante os meus 15 anos de trabalho com o tricampeão de Roland Garros, nunca soube. E olha que isso é muito raro.

Guga relata no livro que quando tinha 15 anos de idade e foi a Roland Garros pela primeira vez, foi ao museu do Louvre. Lá viu um quadro, comprou o cartão postal da pintura e mandou para a mãe Alice, com o seguinte recado: “Esse não é um quadro normal e eu não sou um jogador normal; sou um tipo diferente e um dia eu serei número do mundo.”

Guga depois conta que não esperava ser número um, não pensava nisso, mas mesmo assim escreveu o postal. Claro que Dna. Alice ainda guarda o cartão até hoje.

kuerten number one

O texto segue contando um pouco a história de Guga, enaltece Larri Passos, passa por Roland Garros e claro que chega a Lisboa para contar o que todos nós já sabemos, mas que é sempre especial relembrar. Fico aqui pensando hoje, que se Safin tivesse vencido mais um jogo (era o que ele precisava) e Guga perdido qualquer uma das suas partidas depois da derrota para o Agassi, não estaríamos aqui falando sobre isso hoje e teríamos o nome de Marat Safin ao lado do ano 2000 no trofeu. Mas ele venceu e ganhou de Sampras e Agassi na sequência para chegar ao topo do ranking mundial e se tornar o primeiro tenista sul-americano a terminar uma temporada como número um do mundo.trofeu numero um do mundo atp

Aliás, a imagem do trofeu de número um do mundo, que passou agora a ser chamado de trofeu Brad Drewett, em homenagem ao CEO da ATP que faleceu neste ano, é de arrepiar, com os nomes de todos os tenistas que terminaram a temporada no auge.

Para quem quiser ter uma ideia do que encontrar no livro, além de Guga, é claro, aqui estão as páginas do Djokovic e do Sampras.

No 1 SamprasNo 1 Djokovic

Por enquanto ele está sendo vendido na Tennis Warehouse, por U$ 29,90.

Diana Gabanyi

Existe palavra para descrever o feito de Rafael Nadal em Roland Garros?

Hoje li sobre o “Emotionary,” um dicionário de emoções que tenta colocar em palavras sensações que não conseguimos descrever. Fiquei pensando que palavra descreveria a conquista dos oito títulos de Roland Garros de Rafael Nadal. Ao derrotar David Ferrer por 6/3 6/2 6/3 ele entrou para a história novamente como o único tenista a vencer o mesmo Grand Slam oito vezes.

Nadal French Open 2013

Seria “Dreamedible” – sonho incrível? Procurei no dicionário algumas palavras e me deparei com Incredulation, com a explicação de empolgação com a surpresa de algo que você duvidava, ou não achava que fosse conseguir, saia muito bem. Essa palavra poderia se adaptar mais ao técnico e tio de Rafael, Toni Nadal. Antes mesmo dos pontos finais ele já estava de pé nas tribunas dos “jouers”em Roland Garros.

Nadal, em vez do “excitement”em excesso, ou dos pulos que costumam dar as irmãs Williams e Jo-Wilfried Tsonga, se emocionou. Lágrimas quase correram dos olhos dele quando o hino espanhol tocou e ele segurava, ou melhor, abraçava o “Trophee des Mousquetaires.”

A emoção vem, principalmente, pelas dificuldades que acometeram a carreira dele há quase um ano. Depois do sétimo título em Roland Garros, Nadal foi jogar em Halle. Perdeu nas quartas-de-final para Philip Kohlschreiber e partiu em direção a Wimbledon. Mesmo com dores no joelho não quis desistir do Grand Slam britânico. Mas, foi eliminado na segunda rodada por Lukas Rosol.

Quem imaginaria que daquele final de julho, Nadal só voltaria a jogar em fevereiro deste ano?

Ele passou quase oito meses fora das quadras. Tantas dúvidas passaram pela cabeça dele e do seu staff que Toni Nadal interrompeu uma entrevista em Roland Garros, na sexta-feira, de tanto que chorava de emoção.

Nadal Roland Garros 2013

Mesmo a retomada das competições não foram fáceis. Nadal resolveu jogar os torneios da América Latina, no saibro, contra jogadores desconhecidos para ele e estruturas de evento bem menores às que ele está acostumado. Sofreu nos dois primeiros eventos, em Viña del Mar e em São Paulo. Mas, mesmo assim, foi vice no Chile e campeão no Brasil. Foi para Acapulco já jogando melhor e ganhou do mesmo David Ferrer na final.

Pensou em não jogar em Indian Wells, mas se sentia bem e foi para a quadra rápida californiana. Muitos achavam que ele não teria o mesmo resultado que nos torneios de saibro. Se enganaram. Ele foi campeão.

Sabiamente descansou por algumas semanas e foi jogar em Monte Carlo, o seu primeiro grande torneio no saibro. Perdeu a final para Novak Djokovic e de lá em diante não perdeu mais. Ergueu trofeus em Barcelona, Madri, Roma e neste domingo em Roland Garros.

Foram quatro títulos seguidos e em Roland Garros são 8 “Trophee des Mousquetaires” em 9 participações. Apenas uma derrota – para Robin Soderling em 2009.  São 59 vitórias, uma a mais do que Roger Federer e Guillermo Vilas.

Que palavra usar para descrever este fenômeno? Quando ganhou três Roland Garros achávamos que era algo incrível. Olhávamos para os recordes de Borg e achávamos que ninguém alcançaria tal patamar, 6 títulos em Paris. Mas Borg já ficou para trás. A terra de Roland Garros é dele, 100% dele, 8 vezes dele, de Rafael Nadal.

Entre os campeões de Grand Slam, Nadal também só vai aumentando a sua coleção. Quando Sampras ultrapassou o recorde de Roy Emerson (12) e chegou à marca de 14 títulos de Grand Slam, também pensávamos que ninguém alcançaria este número. Roger Federer já está no trofeu número 17 e Nadal agora tem 12.

Alguém duvida que ele possa chegar lá?

Diana Gabanyi

Foto Nadal vibrando: Cynthia Lum