O carioca Fabiano de Paula está de volta ao tênis. Depois de sete meses ausente do circuito, quatro deles sem pegar na raquete, se recuperando de uma cirurgia no ombro, ele recebeu um convite da organização e vai jogar a chave de duplas do Rio Open, ao lado de Orlando Luz.
Neste período, aproveitou, entre outras coisas, para rever seus jogos, buscando corrigir falhas, e estudar, começando a cursar a faculdade de Marketing:
“Com certeza foi um momento difícil, sem poder fazer as coisas que gosto de fazer. Acho que tudo que acontece tem motivo. Eu ainda não entendi, mas com certeza mais pra frente vou entender.”
Sem dúvida, um período longe das quadras é difícil para qualquer atleta e o apoio recebido é fundamental, coisa que não faltou para Fabiano:
“Tive o apoio da família, da minha equipe. Muitas pessoas trabalharam duro pra eu poder estar aqui no Rio Open, que foi a meta que colocamos. Muita gente sofreu comigo pra eu estar em quadra.”
Logo na estreia do ATP 500 disputado no saibro, Fabiano e Orlandinho terão pela frente os mineiros Bruno Soares e Marcelo Melo, principais favoritos da chave, mas engana-se quem pensa que seu objetivo é apenas aproveitar o jogo:
“Fiquei muito feliz com o convite, quero agradecer à organização do Rio Open. Acho que a gente tem tudo pra fazer um bom jogo, vou desfrutar, mas também vou entrar na quadra pra ganhar, como se fosse o primeiro jogo da minha carreira. Estou com uma expectativa muito boa e muito feliz por estar em um ambiente de competição, isso é o mais importante. Tenho que agradecer também aos meus patrocinadores que ficaram ao meu lado durante todo este tempo. Cheguei a propor não receber enquanto não joguei, mas me apoiaram o tempo todo, na cirurgia, em toda recuperação.”
Depois de criar a sua escolinha de tênis há um ano, na Rocinha, onde foi criado, o sorriso aparece quando fala das crianças e jovens que fazem parte do projeto, que já alcançou 200 jovens entre 6 e 14 anos, e recebeu a visita do norte-americano John Isner, nesta semana:
“A escolinha tá muito legal! As crianças estão jogando cada vez melhor, gostando cada vez mais de lá, de aprender. Tivemos a presença do Isner, as crianças ficaram muito empolgadas, um cara que vestiu a camisa mesmo. Todo mundo saiu com as energias renovadas pra seguir trabalhando. Cinco dos nossos jovens já estão indo treinar na Tennis Route e mais cinco devem ir também, mas o mais importante é que eles tenham uma educação melhor e uma perspectiva de vida melhor, que abra um leque de opções e fiquem longe das drogas e da violência. O projeto foi feito pra isso. Nem todos serão profissionais, mas queremos que eles sonhem e que o sonho deles se realizem.”
Acostumado a jogar muitos Futures e Challengers, Fabiano não se esquivou de responder sobre a polêmica do ano no tênis, que surgiu durante o Australian Open, sobre o envolvimento de jogadores com máfias de apostas:
“Já tive propostas, mas fingi que nem era comigo, por facebook e telefone, mais de uma vez. Não chegaram a falar em valores, mas perguntaram se eu aceitaria perder o jogo. Foi em Future e em Challenger, mas eu to fora! Em outros episódios, pessoas entraram no meu facebook e me xingaram depois que perdi um jogo. Tenho várias mensagens ainda lá, não apaguei. Não entreguei pra ATP, pois não levava a sério. Só um português que me tirou do sério. Falou que eu tinha que morrer, que eu tinha que voltar pra favela vender drogas. Fiquei p.. na hora, mas deixei pra lá. O foco que temos que ter é no nosso trabalho e não em pessoas que querem ganhar a vida às suas custas, de uma maneira facilitada. Não foram 10 vezes que isso aconteceu, foram mais.”
Por fim, Fabiano afirmou que, mais maduro, o objetivo é subir no ranking, chegando à um nível mais alto, entrando no top-100:
“Tenho expectativa. Quanto mais aprendemos com a vida e com os obstáculos que passamos, temos mais condições de chegar ao objetivos. Óbvio que não é uma garantia (chegar ao top-100), mas vou fazer o possível, vou treinar, vou me dedicar. Acho que cada vez mais estão entrando mais tarde, tirando as exceções dos fenômenos. Temos que trabalhar, batalhar, buscar alternativas, pegar experiências com jogadores que já pararam, com outros treinadores e continuar trabalhando firme, buscando o máximo de apoio possível pra viajar e tendo condições de correr atrás do sonho.”, concluiu.