Quando pensamos em tênis sérvio hoje em dia, a primeira pessoa que vem à mente é Novak Djokovic. No entanto, Ana Ivanovic, que ontem anunciou a sua aposentadoria do tênis profissional, também iniciou a revolução sérvia com ele.
Em uma época em que o tênis feminino além das Irmãs Williams, era dominado pelas russas, surgiu Ana Ivanovic, que passou pela guerra tanto quanto Novak e treinava jogando em uma piscina sem água.
Em 2005 conquistou o seu primeiro título na WTA, em Canberra. Mas o sucesso veio mesmo em 2007 e em 2008.
Em 2007 chegou à final de Roland Garros pela primeira vez e em 2008, enquanto Novak erguia o trofeu de campeão do Australian Open, Ivanovic ficava com o vice-campeonato, para poucos meses depois ganhar o Grand Slam que deu fama a Monica Seles, a tenista que cresceu idolatrando: Roland Garros.
Dali para frente, Ivanovic levou o tênis sérvio para outra patamar, seguida de perto por Jelena Jankovic, sua compatriota e não tão amiga assim.
Foi uma época em que só se falava em Sérvia no circuito. Ana, Novak e Jelena estavam em todos os lugares. A história da guerra era impactante – e ainda é. Eles eram convidados e compareciam a recepções em embaixadas sérvias e falavam da nação tão prejudicada pela guerra com um amor profundo, que talvez nós que nunca tivemos que nos esconder de bombardeios, nunca saibamos o que seja.
Foi há quase uma década, mas lembro perfeitamente da final de Roland Garros. Estava lá, ainda cumprindo meu papel de assessora do Guga, que fazia a sua despedida do circuito profissional e escrevendo para a nossa Tennis View impressa. Assisti a semi e a final e a imagem que mais ficou daquela decisão em Paris contra Dinara Safina foi a frustração da russa. A confiança de Ivanovic era tamanha que Safina só se abaixava para o lado e batia a raquete na Philipe Chatrier. Não conseguia fazer nada.
Ana ganhou. Seu sorriso encantou. Ela logo se tornou número um do mundo, apenas uma de 21 mulheres na história da WTA a alcançarem tal feito. Muitos questionaram o seu jogo como pouco versátil e nada impressionante, mas foi o suficiente para que ela dominasse o circuito por um curto período.
Veio a fama, muita fama para uma nação sofrida e para uma WTA que busca tenistas como ela – jovens, bonitas, educadas, com boas histórias, guerreiras e campeãs – quem não buscaria?
Mas, Ana não soube lidar com a fama. Ela não cansa de dizer que na época, aos 20 anos de idade, devia ter tido uma equipe mais experiente ao seu redor. Claro que ajudaria, sem dúvida, mas acima da experiência, o bom senso e o foco no atleta, no tenista, pensando na longevidade e não apenas em resultados imediatos são o que mais contam.
Até mesmo o agente mais experiente pode oferecer diversos tipos de negócios, capas de revistas para fotografar – é o papel dele oferecer de tudo / um conselho sempre vai bem – mas a decisão final é sempre da tenista junto com o seu time mais próximo.
Uma pena naquela época.
Mas, Ivanovic apesar de ter se perdido um pouco, ainda conseguiu voltar e fez de 2015 uma ótima temporada. Derrotou Serena Williams ao longo do ano e voltou ao top 10. Fruto de muito trabalho e horas se recuperando de pequenas lesões.
Veio 2016 e a temporada não foi boa. Foram muitas derrotas e raras vitórias. O ranking foi para o 63o. lugar e para quem já reinou e conquistou 15 trofeus, ser apenas uma figurante entre as tops já não era mais suficiente.
Obrigada Ana por nossas lindas capas da Tennis View, ótimas entrevistas e um sorriso que não ficava apenas na frente das câmeras, mas de trás delas também.
“Foi uma decisão difícil, mas há muita coisa para comemorar”, disse Ivanovic, em uma transmissão ao vivo pelo Facebook, alegando que os problemas físicos não permitiram que ela continuasse no esporte: “Não posso jogar se não puder atuar em alto nível e não consigo mais jogar assim. Então, é hora de seguir em frente.”
Casada com o jogador de futebol alemão Bastian Schweinsteiger, fora das quadras ela é embaixadora do UNICEF desde 2007, função a qual pretende se dedicar mais a partir de agora, assim como a propagação do esporte e da vida saudável, se mostrando disposta, inclusive, a trabalhar com moda e beleza.
“Vivi meus sonhos e quero ajudar outras pessoas a realizarem os delas. Não fiquem tristes, sejam otimistas. Agradeço a todos que me ajudaram a ter uma vida maravilhosa”, finalizou.
Diana Gabanyi e Filipe Lima Alves
Foto de Cynthia Lum